Primeiro ano e novos passos da política econômica do governo Lula 3

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Adriano Villela

Inicialmente, alguns analistas viam com ressalvas a indicação do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) para a Fazenda. Sua trajetória política distante da macroeconomia e a chegada da ex-presidenciável Simone Tebet (MDB) no ministério do Planejamento, de ideias divergentes, indicavam momentos turbulentos. Este primeiro entrave foi eliminado pelo próprio presidente Lula, deixando claro que colocar pessoas de ideias diferentes na condução da economia era a seu ver a melhor opção.

Se o antecessor Paulo Guedes era um gestor de formação econômica clássica no campo liberal, mas de habilidade política na qual nem ele confiáva, Haddad fez o caminho inverso. Usou de sua bagagem partidária e como ex-prefeito de São Paulo para virar um negociador destacado. Não só com Tebet e outras lideranças no Executivo, mas principalmente com o Congresso Nacional e representantes do mercado.

Responsável por elaborar um novo marco fiscal em lugar o teto de gastos, Fernando Haddad viabilizou a aprovação de seu arcabouço em um semestre e a reforma tributária no outro. Outras pautas – como a tributação em fundos exclusivos e a regulamentação das apostas esportivas – avançaram, embora a compensação pela desoneração da folha tenha ficado pendente, carecendo de um diálogo com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.

O Brasil termina o ano com juros básicos de 11,75% (abaixo dos 13,75% ao final de 2022), podendo chegar a 9% em 2024. A inflação voltou para dentro da meta, próxima do teto. Em 2024, caminha para convergir ao centro. Aliados a um crescimento do PIB próximo de 3%, estes indicadores passam a impressão que o pior já tenha passado.

E este pode, sim, ser o cenário no ano novo. Mas há desafios pela frente. A perspectiva atual é de uma expansão de atividade econômica de 1,5%. É baixo para as necessidades do país. O ideial é que o aumento do PIB seja maior do que o de 2023, algo viável principalmente se tivermos um bom desempenho do Novo PAC, uma retomada do Programa de Aceleração do Crescimento comandada pelo ex-governador baiano e ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Este crescimento é fundamental para o equilíbrio fiscal. Pelas regras do arcabouço, a meta do próximo ano é de resultado primário neutro (nem superávit nem déficit), com possibilidade de oscilação de 0,25% para mais ou para menos. O Ministério da Fazenda espera fechar o ano atual com déficit de R$ 130 bilhões. No próximo, o déficit precisa ficar em pelo menos R$ 100 bilhões a menos.

Além da parte econômica, a equipe de Fernando Haddad terá dois desafios políticos em 2024. O primeiro é o processo eleitoral nos municípios, levando o Congresso Nacional a um recesso branco no terceiro trimestre. Fechadas as urnas, entra em cena a sucessão no Banco Central. O mandato do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, se encerra no final do ano.

Neste semestre, o clima entre o Palácio do Planalto e o comandante do BC ficou mais calmo, abrandado pelo início do corte da Selic. Mas a relação conflituosa dos primeiros meses do governo pode voltar com força na escolha do sucessor. Serão necessários, em 2024, cálculo preciso nas contas e muita negociação política. Mas é possível sim que o ano termine de forma positiva, repetindo 2023.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

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