Especialistas do Mercado de Investimentos analisam o posicionamento do Banco Central de manter a taxa de juros em 15% ao ano e apontam a entrada do Brasil num período de recessão acentuado com as medidas do governo Trump.
“Com a oficialização do tarifaço, que deve pressionar o IPCA nos próximos meses, o Comitê optou por preservar o juro real elevado como âncora de credibilidade”, diz Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos. Para José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, há um alinhamento com o mercado a partir da decisão de hoje do Copom. “Diferentemente da última reunião, há pouca dissonância sobre a decisão de hoje. O mercado está alinhado com a manutenção da Selic em 15% por período prolongado, premissa corroborada pela própria comunicação do COPOM. A última ata foi bastante elucidativa em mostrar os desafios atuais da política monetária, mas a mensagem principal reside na percepção de que o nível atual da Selic é suficiente para dar continuidade ao processo desinflacionário” .
Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, “A decisão do Copom de manter a Selic em 15% mostra que o Banco Central está preocupado com o cenário inflacionário e com os efeitos do tarifaço americano sobre o câmbio. Para as empresas brasileiras, especialmente as de médio e grande porte, isso representa a continuidade de um ambiente de crédito caro e seletivo. O custo financeiro segue como um dos principais obstáculos para expansão, investimento e reorganização fiscal. Nesse cenário, otimizar a estrutura tributária e revisar passivos se torna ainda mais estratégico. Cada ponto percentual de economia pode ser decisivo para manter a competitividade. A estabilidade da taxa não é sinônimo de tranquilidade, é um sinal de que o empresariado precisa agir com mais inteligência, antecipando riscos e maximizando eficiência fiscal para enfrentar um semestre de alta pressão”.
Na leitura de Vinicius Prado, economista chefe da MA7 Negócios, a expectativa é de consenso entre os analistas uma vez que foram unânimes na decisão. “O comitê também deve reforçar que a taxa permanece em nível contracionista até que os riscos, inclusive os tributários e cambiais, sejam mais claros. O câmbio pode reagir com pressão de alta, levando o dólar novamente à casa de R$ 5,60, diante do risco da tarifa americana de 50% sobre exportações brasileiras. A curva de juros futuros deve registrar alta nos vencimentos intermediários (DI 24‑25), refletindo incerteza e mais cautela em relação à trajetória de corte. Essa decisão não deve alterar o cenário base: espera-se que a inflação siga acima da meta (acima de 5% em 2025) e o PIB continue moderado, entre 1,5% e 2,3%, como estima o FMI. A posterior sinalização de cortes possivelmente a partir de dezembro ou mesmo no início de 2026 dependerá do comportamento do câmbio e da resposta das expectativas inflacionárias. Para quem atua com crédito e recuperação judicial, um cenário com juros mais altos por mais tempo significa custo de capital maior, o que encarece financiamentos e reduz valor presente de recebíveis. Ao mesmo tempo, empresas exportadoras que forem afetadas pelo tarifaço podem enfrentar dificuldades e demandar nossos serviços, abrindo oportunidades, mas também exigindo maior rigor na análise de risco. A volatilidade nas tarifas e no câmbio também pode aumentar os litígios e renegociações judiciais, demandando soluções estruturadas”.
Para Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, o juro segue estacionado e o mercado continua travado. “Nem piora, nem melhora. A decisão mostra que o Copom ainda busca entender o real impacto do tarifaço antes de agir. A curva de juros segue lateralizada, e o câmbio continuará sob pressão no curto prazo. Para o investidor institucional, esse compasso de espera reforça a seletividade”. Fábio Murad, Economista e CEO da Super-ETF Educação considera que a decisão do BC tende a sustentar o real no curto prazo e manter a curva de juros pressionada, com juros reais acima de 7% nos prefixados longos. “O PIB deve crescer cerca de 2,3% este ano, mas a política monetária segue restritiva. A oficialização do tarifaço dos EUA adiciona pressão inflacionária externa e pode postergar ou até reverter o ciclo de cortes. O cenário favorece a continuidade da exposição internacional com ETFs dolarizados e geração de renda passiva em dólar, protegendo o patrimônio num ambiente local ainda incerto”.
João Kepler, CEO da Equity Group, aprova a prudência do Banco Central brasileiro. “Tudo indica que o Copom está esperando mais clareza sobre os efeitos do tarifaço no comércio e na inflação antes de se mover. É um cenário que traz estabilidade momentânea, mas não reduz o custo do capital para quem empreende”.
João Pedro Ribeiro do Val, Diretor da Bossa Invest, considera que, com a oficialização das taxas impostas pelos Estados Unidos, possa gerar uma pressão sobre o resultado das vendas internas, o que pode baixar a atividade econômica e abrir espaço para uma queda mais rápida dos juros caso não houvessem as medidas anunciadas hoje. “Como as taxas tem sido uma ferramenta de negociação forte e com resultados imprevisíveis a curto prazo, o impacto das taxações vai passar a ser uma variável mais presentes para traçar quaisquer cenários”.
Prudência
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, vê como prudência a manutenção da Selic. “O câmbio pode seguir pressionado no curto prazo, com impacto na curva de juros, mas sem mudanças drásticas. A expectativa de PIB segue moderada, e a inflação ainda sob controle. Para os negócios, é um cenário de compasso de espera, onde a palavra de ordem é resiliência e visão de longo prazo”. Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, acredita que a manutenção da Selic é uma tentativa de ganhar tempo. “O tarifaço elevou a incerteza, mas talvez ainda falte clareza sobre os impactos de médio prazo. Para os FIDCs, a decisão preserva o atual patamar de retorno, mas também mantém o ambiente de originação seletiva. O câmbio segue pressionado, e o risco fiscal continua sendo monitorado de perto pelos gestores”.
Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, também compartilha o sentimento de prudência e cautela manifestado pelo BC após a reunião desta noite do Copom. “A decisão de manter os juros indica que o BC reconhece o momento de incerteza e prefere cautela. Para as empresas, isso significa seguir operando em um cenário travado: crédito restrito, investimentos represados e decisões sendo adiadas. O tarifaço complica ainda mais essa equação, pois adiciona insegurança ao ambiente externo. Nesse contexto, cultura organizacional forte e comunicação clara com o time se tornam diferenciais competitivos”.
“Com a oficialização do tarifaço, que deve pressionar o IPCA nos próximos meses, o Comitê optou por preservar o juro real elevado como âncora de credibilidade. Ao manter a Selic, o BC sinaliza que não vai agir de forma reativa às pressões políticas, reforçando seu compromisso com o centro da meta de inflação. Para a atividade econômica, o cenário de juro real alto prolongado reduz o ímpeto do consumo e da construção civil, com impactos sobre o PIB do segundo semestre. Setores mais sensíveis a crédito seguirão pressionados, e a retomada dependerá menos da política monetária e mais de avanços na confiança institucional”, entende Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.
Na visão de Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, foi levada em consideração a decisão de preservar a atratividade da renda fixa e manter a disciplina na ancoragem das expectativas. “Ainda assim, com o câmbio pressionado e incertezas externas, os gestores devem continuar priorizando risco controlado e setores com maior resiliência de caixa. O ambiente segue exigente, mas permite operações bem calibradas”.
Guilherme Alves, Sócio da Audax Capital, também entende que a cautela adotada pelo BC é uma visão estratégica nesse momento. “O mercado vai interpretar como uma pausa estratégica para avaliar o impacto das tarifas. A curva de juros tende a se manter esticada, e o custo do capital segue elevado. Para os fundos, é hora de disciplina, liquidez e diligência extra na escolha de ativos”.
Foto: José Cruz/Agência Brasil/Arquivo