Sobre barão, moedas e hiperinflação

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Adriano Villela

Quem começou a lidar com dinheiro a partir dos anos 90 pode estranhar a expressão barão como sinônimo de pessoa muito rica. E ela não tem nada a ver com o título de nobreza e sim com uma nota de mil cruzeiros que estampava a foto do Barão do Rio Branco. Cruzeiro, a propósito, era a moeda brasileira até 1986.

Naquele ano, o então presidente José Sarney tinha como ministro da Fazenda Dilson Funaro, que criou novo padrão monetário, o Cruzado. O plano envolvia ainda cortar três zeros da moeda. Por causa da hiperinflação, a nota antes sinônimo de riqueza tinha poder de compra equivalente a centavos. Para não termos transações de 1 milhão de cruzeiros ou 1 bilhão de cruzeiros em um simples supermercado, os zeros eram cortados. O ‘barão’ passaria a valer 1 cruzado.

O mais inusitado é que entre o Plano Cruzado – que tinha como lema Tem que dá certo – os zeros foram cortados mais duas vezes e outras três mudanças monetárias foram implantadas até 1994, quando veio o Real: o Cruzado Novo, ainda no governo Sarney; a volta do Cruzeiro, já no mandato de Fernando Collor e o Cruzeiro Real, na gestão de Itamar Franco.

A primeira mudança da moeda brasileira desde a Colônia ocorreu em 1942, quando surgiu a pioneira versão do Cruzeiro. Até a década de oitenta ocorreram mais duas trocas do padrão monetário – surgem o Cruzeiro Novo (1967) e a primera volta do Cruzeiro (1970).

O turbilhão de mudanças nos anos 80 foi causado por picos inflacionários, com variações de 82% ao mês. Na Argentina atual, por exemplo, o governo atual luta contra uma variação de 142% ao ano. Os governos brasileiros adotavam também congelamento de preços e salários.

Havia um órgão chamado de Sunab que tinha a função de fiscalizar os preços praticados, mas na virada da década o país lutava contra variações anuais de 1.430,72% (1989), 2.947,73 (1990), 1927,38% (1993) e 2.075,89% (1994). A situação só entrou nos parâmetros atuais quando foi criada a Unidade Real de Valor (URV), em que os preços eram fixado em URV, que mudava de “cotação” diriamente. Em julho de 1994, surgiu o real, equivalente a 1 URV.

Foto: facebook Casa da Moeda

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