Alessandra Nascimento
Editora-chefe
Tudo começou em outubro. Quem não se recorda quando o vice-presidente global da Danone, Juergen Esser, deu entrevista dizendo que a empresa não comprava mais soja do Brasil alegando problemas de sustentabilidade. E o pior é que ele em momento algum ele apresentou qualquer prova sobre as alegações. A resposta foi imediata: como não existe só a Danone no país, os consumidores compraram da concorrência e a empresa precisou voltar atrás e alegar que “não foi bem aquilo que queria dizer, mas disse!”
E como senão bastasse veio o CEO engravatadinho do grupo francês Carrefour, de nariz empinado e dedo em riste, Alexandre Bompard, dizendo em suas redes sociais que não comprava mais carne do Mercosul em apoio ao agro francês. O resultado ele colhe até hoje: correu atrás do setor de comunicação para tentar minimizar a crise gerada por suas palavras insensatas e descabidas com o cargo que ocupa. O Comunicado oficial tentou dizer que a restrição era apenas para as lojas francesas em sinal de apoio mas a emenda ficou pior que o soneto. Os frigoríficos brasileiros decidiram não mais vender carne ao Carrefour Brasil.
Mas parece que a fase dos CEOs “sem noção” não acabou e chegou a vez de Olivier Leducq, da Tereos, grupo sucroenergético, se bater com a cana-de-açúcar brasileira e derivados. A ousadia do último não teve limites: usou sua conta no Linkedin. “Apelamos à França para que continue a mobilizar outros estados-membros para garantir que este acordo não seja imposto pela Comissão Europeia”, disse.
É preciso ver até que ponto os “CEOs” se garantem para fazer tanta insensatez, inclusive com os seus próprios empregos. O Mercosul tem uma população total nos seus países membros do superior a 295 milhões de pessoas, mais de 70% da população da América do Sul. É um imenso mercado consumidor que, ao que parece, não deve estar mais sendo interessante a essas multinacionais. Caso contrário seus representantes não usariam as redes sociais para “vomitar abobrinhas” em prol de um protecionismo arcaico, obtuso, fruto de uma visão colonialista ainda imperante no século XXI.
A França tem uma população de 68 milhões de pessoas só o Brasil são 216,5 milhões de pessoas; a Argentina 47 milhões; o Uruguai 3,43 milhões; Paraguai 6,8 milhões e nisso cito apenas os sócios fundadores do Mercosul. Será que essa gritaria toda não vai gerar mais dores de cabeça que resultado? Será que eles acham que podem nos humilhar dessa forma?
Especula-se que a jogada das empresas francesas seja alinhada com o governo daquele país. Mas a pergunta que fica é, num mundo globalizado, até que ponto essas multinacionais vão manter o tom e desrespeitar um dos setores produtivos mais fortes do mundo que é a agroindústria do Mercosul, encabeçada pelo Brasil?
Sinceramente é uma briga que ainda vai dar pano pra manga e muito CEO vai ter que atualizar currículo para trabalhar em outras empresas após receberem a resposta dos balanços no final do mês, resultado da destemperança.
foto: jackmac34/Pixabay