O Brasil na era do shale gas

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*Adary Oliveira, ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, engenheiro químico e professor (Dr.)


A produção de gás natural nunca foi prioridade para a Petrobras. Desde os tempos em que a Bahia começou a produzir petróleo comercial em Candeias (14/12/1941) e se intensificou a pesquisa dos hidrocarbonetos aqui na região, que se ordenava concretar os poços que continham apenas gás, segundo relato dos antigos petroleiros. O que interessava era a descoberta de mais petróleo.

O Gás Natural (GN) é encontrado associado ao petróleo ou não associado. A produção GN associado ao petróleo atraiu para o município de Simões Filho a companhia norte-americana Lone Star Corporation que instalou nas proximidades da Baía de Aratu uma fábrica de cimento. O calcáreo era extraído no fundo da Baía de Todos os Santos, usava-se processo via úmida e o GN era usado como combustível nos fornos horizontais. No município de Camaçari foi instalado pela Petrobras o Conjunto Petroquímico da Bahia (Copeb), hoje Unigel Agro, para a produção de amônia e ureia usando o gás como matéria prima.


A importância do uso do gás natural cresceu com o tempo e hoje é a principal matéria prima da indústria petroquímica. Com o declínio das reservas de GN intensificaram-se as pesquisas para a busca de outras soluções quando, no início do Século XXI, os Estados Unidos iniciaram a produção do “shale gas”. Conhecido como gás não convencional ele passou a ser produzido pela aplicação da técnica “fraturamento hidráulico” obtendo-se a desagregação do óleo e do gás das rochas sedimentares com jatos de água e areia.

Com isso os Estados Unidos passaram a ser os maiores produtores de gás natural, tendo produzido em 2022 cerca de 27 trilhões de pés cúbicos (cuft em inglês) de GN, volume este que está sendo projetado para 35 trilhões de cuft para 2050. Os USA têm exportado GN no estado líquido (GNL) para todo o mundo. Em março deste ano um navio descarregou 122.532 m3 de shale no terminal de regaseificação instalado próximo à Ilha dos Frades, na Baía de Todos os Santos, tendo custado US$8,24/MMBTU, preço FOB.

O preço Henry Hub desse gás praticado nos USA foi de US$1,87/MMBTU no dia de ontem (09/04), o mais barato do mundo.

A tecnologia dos americanos se espalhou pelo mundo e hoje o shale gas é produzido em vários países, sendo os cinco maiores os Estados Unidos, Canadá, China, Argentina e Austrália. A Argentina, possuidora da segunda maior reserva desse gás não convencional concluiu a construção de gasoduto de 573 km ligando a Patagônia à região de Buenos Aires e avança na produção.

A exportação para o Brasil poderá ser feita na forma gasosa bastando que se construa um gasoduto de 600 km ligando Uruguaiana a Triunfo, no Rio Grande do Sul, ou invertendo o sentido do gasoduto que liga a Argentina à Bolívia, por onde o gás alcançaria o Gasbol e seria integrado à malha de gasodutos do Brasil, podendo chegar à Bahia pelas duas rotas. A estimativa é de que o shale gas argentino seja vendido no Brasil por US$ 3,00/MMBTU.


Enquanto isso a exploração do gás não convencional por fraturamento hidráulico no Brasil continua sendo proibido pelos órgãos de maio ambiente. Eles alegam que haveria poluição do lençol freático e uso demasiado de água.

O ministro Alexandre Silveira, Minas e Energia, declarou na semana passada que irá lutar para que o fraturamento hidráulico venha a ser usado no Brasil. O GN fornecido atualmente pela Petrobras à indústria na Bahia custa mais de US$ 12,00/MMBTU, o que tem fechado fábricas que consomem GN e inviabilizado a vinda de novos empreendimentos.

O principal campo produtor de GN na Bahia é o de Manati e o royalty pago pela Petrobras à União, ao Estado da Bahia e ao Município de Camamu, é calculado sobre o Preço de Referência, US$2,83/MMBTU em dezembro último, não se justificando o preço tão elevado que ela vende o gás para a indústria.


A indústria química nacional sobrevive com dificuldades tendo de enfrentar no seu dia a dia inúmeros desafios. Enumero aqui alguns dos mais importantes: a alta carga tributária; concorrência com produtos importados; os reduzidos investimentos em pesquisa e inovação; a burocracia para obtenção das licenças e autorizações; e a infraestrutura limitada para transporte e logística.

Como se essas barreiras não bastassem surge a proibição da aplicação da técnica fraturamento hidráulico e os preços bem acima do praticados no mercado mundial, para se anteporem aos desejos de progresso da indústria química nacional. Fica parecendo que tudo conspira contra, impedindo o avanço do país no seu rumo ao desenvolvimento.

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