A responsabilidade social e o colapso da mina em Maceió

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Adriano Villela

Uma das matérias que mais me marcou foi produzida em 2011, quando eu atuava na editoria de Cidade. Pouco mais de 100 casarios de Salvador em estado bem precário foram escorados para evitar que os imóveis históricos desabassem. Mas a reforma dos mesmos foi sendo protelada. Em uma das poucas reportagens produzidas em dois dias, fiz a cobrança para a recuperação dos casarões, alguns dos quais moradia para famílias. Infelizmente, em vão.

Quatro dias depois, o imóvel de número 131 da Ladeira da Soledade ruiu. Vigas e pilastras de madeira internas, sem o suporte da escora de metal implantada externamente, não suportaram o tempo, matando uma pessoa e deixando outra ferida.

O episódio voltou a minha memória com o caso do bairro de Mutange, em Maceió-AL, que a qualquer momento desta sexta-feira (1º) pode ser atingido pelo colapso de uma mina. A área no entorno da Lagoa do Mundaú foi desabitada, mas os desdobramentos para transeuntes e de tremores de terras são incalculáveis.

O problema afeta regiões da cidade alagoana desde 2018 e já tem sido alvo de ações na Justiça envolvendo o Ministério Público, os governos estadual e e municipal e a Braskem, responsável pela exploração mineral que afeta bairros de Maceió. A empresa, diga-se, alertou para o risco e vem divulgando avisos resultado do monitoramento do problema que realiza.

O que me chama atenção, nesta situação, é a escassez de medidas para evitar a ocorrência do problema. O Brasil viveu graves problemas da exploração mineral em 2015, em Mariana (MG), no Vale do Rio Doce, e em 2019, em Brumadinho (MG). Não seria possível, após a ocorrência de rachaduras, impedir o colapso da mina em Maceió?

Caso seja inviável o reparo, creio ser também inviável a exploração comercial das reservas. Um dos avanços principais no atual mundo corporativo é a responsabilidade social. Preocupações com o Meio Ambiente e no combate à violências contra grupos vulneráveis são, sem dúvida, medidas relevantes, mas precisam ser casadas com a atividade fim das empresas.

No setor de papel e celulose, por exemplo, a proteção do meio ambiente inclui o plantio da árvore de onde sairá o insumo da atividade. E o segmento agrega grandes empresas. A própria Braskem tem o seu controle colocado a venda pela Novonor (antiga Odebrecht). A ausência de uma solução para a crise da salgema é apontada como um dos entraves para o fechamento do negócio.

Foto reprodução do site da Prefeitura municipal de Maceió-AL

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