Morre, aos 96 anos, ex-ministro Delfim Netto

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O ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, Delfim Netto, morreu aos 96 anos, nesta segunda-feira, 12, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

A assessoria não disse a causa da morte mas mencionou que o óbito se deu “em decorrência de complicações no seu quadro de saúde”. O ex-ministro deixa uma filha e neto. A assessoria informou que o velório não será aberto ao público e o enterro restrito à família.

Pai do “milagre econômico”

Delfim Netto foi um professor, economista, político e diplomata brasileiro. Ministro da Fazenda durante boa parte do governo militar, suas medidas realizaram o chamado “milagre econômico”, que consistia em ampliar o crescimento econômico nacional, por meio da atração de capital externo e avanços do PIB, fazendo a economia crescer 11% ao ano, porém terminou por gerar aumento na concentração de renda.

Autor da célebre frase “É preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”, creia ser necessário primeiro impulsionar o PIB para depois dividir a riqueza entre a população. O que acabou não acontecendo.

Delfim também foi um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), de dezembro de 1968, que endureceu o regime militar e permitiu a perseguição a rivais políticos do governo. Com o fim da ditadura, Delfim se elegeu deputado federal por São Paulo por 20 anos.

Sempre próximo a Lula e ao governo petista, ele era filiado ao Partido Progressista (PP) e ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 2007,  foi nomeado pelo então presidente como membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável.

Professor e acadêmico
Delfim Netto foi Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Catedrático da USP em 1963 – cargo mais alto em uma carreira docente universitária.
Na área acadêmica, desenvolveu pesquisas voltadas ao planejamento governamental e teoria do desenvolvimento econômico. Segundo a USP, ele defendia ideias da teoria neoclássica e era keynesianista no plano macroeconômico.

Operação Lava Jato

Acusado de receber  propina na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, durante as investigações da Operação Lava Jato, ele teve R$ 4,4 milhões bloqueados pelo Ministério Público Federal em 2018.

Legado

Hugo Garbe,  professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), comentou sobre o legado que Delfim Netto deixa na história econômica brasileira. “É, sem dúvida, um misto de grandes realizações e lições importantes. Ele foi o responsável por conduzir o Brasil em um período de crescimento econômico que trouxe muitas oportunidades, mas que também deixou cicatrizes que o país levaria décadas para curar”, diz.

Ele ressalta que o economista será lembrado como um homem que, com suas decisões, ajudou a moldar o Brasil moderno. “Sua história nos ensina que o caminho para o progresso é cheio de desafios e que as escolhas que fazemos hoje podem ter impactos que durarão por muito tempo. Seja para o bem ou para o mal, ele deixou uma marca que dificilmente será esquecida”.

Presidente se manifesta

O presidente Lula se manifestou após tomar conhecimento da morte do economista Delfim Netto. A nota de pesar mencionava a trajetoria e fazia referência a perda recente de Maria da Conceição Tavares.

Em um curto espaço de tempo, o Brasil perdeu duas referências do debate econômico no país: Delfim Netto e Maria da Conceição Tavares. Fica o legado do trabalho e pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, para ser debatido pelas futuras gerações de economistas e homens públicos. Meus sentimentos aos familiares, amigos e alunos de Delfim Netto,


Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Entidades emitem pesar

O Grupo de Líderes Empresariais, LIDE, lamentou por nota a perda do economista, Delfim Netto. “A contribuição Delfim Netto à economia e às políticas socioeconômicas do Brasil são o seu maior legado. Com muito respeito, desejamos força e serenidade aos familiares e amigos”.

Outra a emitir pesar foi a Federação Brasileira dos Bancos, Febraban, em nota assinada pelo presidente Isaac Sidney. Ressaltando a capacidade de análise da economia brasileira que transformaram Delfim em um interlocutor no debate econômico de várias gerações.

“Delfin Netto deixa um legado fundamental ao Brasil, à economia e aos economistas do país. Sua trajetória se confunde com a história brasileira recente. A Febraban lamenta sua perda e expressa seu pesar e sua solidariedade a sua família e amigos”.

A Associação Brasileira de Bancos, ABBC, emitiu profundo pesar pelo falecimento do economista. Citou sua trajetória política nacional e para o estado de São Paulo quando assumiu a Secretaria da Fazenda, em 1967 sendo o desempenho do trabalho executado catapulta para o Ministério da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

“Sua visão estratégica e notável capacidade de diálogo marcaram profundamente sua trajetória. A ABBC expressa suas sinceras condolências à família e aos amigos de Antônio Delfim Netto e se solidariza neste momento de perda”.

BC enaltece  Delfim Netto

O Banco Central emitiu nota chamando-o de “mente livre de amarras” e declarou que a sua tese de livre docência sobre O Problema do Café no Brasil marcou época e ainda é estudada por economistas da nova geração.

“A Diretoria do Banco Central expressa seu pesar pelo falecimento do economista e agradece a Delfim por suas contribuições ao pensamento econômico e à economia brasileira. Aos familiares e amigos de Delfim, deixamos toda nossa solidariedade neste momento de dor”.

Acervo na Faculdade

A Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEAUSP) lembrou que Delfim Netto havia disponibilizado seu acervo particular à Faculdade. “Hoje o acervo compõe a mais completa biblioteca de economia e temas relacionados à área econômica do Brasil: a Biblioteca Delfim Netto. Mas as obras ali reunidas vão além dessa temática, englobando temas diversos da área de ciências humanas, pela qual o economista tinha grande apreço, como história, antropologia, sociologia, filosofia, tecnologia e meio ambiente”, diz a nota.

O acervo de Delfim reúne mais de 100 mil títulos, tendo em seu conjunto diversas obras em suas edições de referência, adquiridas pelo ex-ministro ao longo de 80 anos, em livrarias e sebos ao redor do mundo.

“O legado acadêmico e intelectual do Prof. Delfim continuará a ser lembrado por todos que tiveram o privilégio de conviver com ele, e também por aqueles que poderão acessar as obras do seu acervo construído ao longo de mais de 8 décadas disponível na Biblioteca da FEAUSP”.

Foto Salu Parente/Câmara dos Deputados

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