Adriano Villela
Quem está acostumado com rotina de redações já sabe: todo verão teremos matérias das filas no sistema ferry-boat. Não deveria ser assim, mas faz parte da programação de Réveillon e a virada do ano de 2023 para 2024 em nada teve de diferente dos anos anteriores desde pelo menos o final da década de 90. Notícias veiculadas na manhã desta terça-feira (2) confirmam filas de 1,5 quilômetro e quatro horas.
A questão não está na concessionária que atualmente administra o modal, mas na concepção do sistema e de uma certa má vontade em modificar processos para algo eficiente. Tanto que problema semelhante ocorre em outros lugares, como na tradicional barca entre Rio e Niterói, e nem com todos os aparatos tecnológicos atuais encontra-se solução.
A história é semelhante: quando se tem pouca procura, o número de barcos é menor – compreensível -, mas no momento de procura alta a quantidade de navios não aumenta. Enquanto em Salvador no aeroporto – desde a época que era público – e na rodoviária são informados horários extras, na travessia marítima não raro nem a quantidade tradicional de embarcações está à disposição.
Em todo o trade – hotelaria, restaurantes, casas de evento, agências de turismo,… -, a sazonalidade é administrada como parte do negócio. A maior demanda é o filé, não o osso. No meio do ano, ocupação hoteleira na casa dos 50% é um número até positivo. No verão, 90% a 100% é a rotina. A Arena Fonte Nova é outro exemplo. Concebida para ter múltiplos usos no pós-Copa do Mundo do Brasil, em 2014, a gestão se organiza para ter eventos e jogos de futebol no mesmo final de semana. Já aconteceu até partidas no mesmo dia de um show. O fluxo maior de clientes é a meta.
No Ferry, outra coisa que me chama atenção é a quebra de embarcações no verão. Seria tão difícil preparar a manutenção entre março e novembro? Parece-me lógico que o foco da gestão deve ser manter um número maior de veículos nos períodos de maior demanda.
Outro aspecto é a passagem por hora marcada, que devia ser a modalidade única no verão. No setor aéreo, voltando à comparação, as companhias aéreas fazem promoção para quem compra com antecedência. Se temos procura maior do que a capacidade de atender, deve-se priorizar quem se planejou melhor.
Vale destacar que há em gestação no governo estadual o projeto da Ponte Salvador-Itaparica. Quando ela for implantada, a travessia por barcos terá que apresentar diferenciais para poder sobreviver. Um modelo que funciona mal sem concorrência dificilmente será financeiramente saudável com uma alternativa próxima mais moderna.
Foto: Camila Souza/GOVBA
Acesse: Agerba responde ao Café com Informação sobre a questão dos Ferry-boats :