Especialistas avaliam que alta de juros era esperada

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Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a alta de um ponto era amplamente esperada pelo mercado, assim como a sinalização de que o movimento continuaria em março. “A principal incerteza estava no que o Banco Central indicaria para os meses seguintes, e a decisão foi manter o discurso mais aberto, destacando que o tamanho total do ciclo ainda não está definido e será guiado pelo compromisso de convergência da inflação à meta. Essa abordagem parece acertada para adotar um tom mais hawkish sem precisar cravar os próximos passos”, esclarece.

Para ele o comunicado reforça, mais uma vez, a preocupação com o cenário externo e a questão fiscal, que ganharam relevância desde a última reunião do Copom. “Houve um grande estresse nesses fatores, impulsionado pela eleição de Donald Trump e pelo pacote de corte de gastos no Brasil, que só foi aprovado mediante liberação de emendas e, mesmo assim, foi desidratado devido à resistência de alguns ministros. Esse cenário adiciona desafios à convergência da inflação, o que já se reflete nas projeções do Boletim Focus, que mostram uma alta nas expectativas para todo o primeiro semestre”.

Em seu entendimento o que a equipe econômica fará daqui para frente será crucial. “Caso apresentem medidas concretas, isso pode aliviar a necessidade de o Copom subir os juros a níveis ainda mais altos. Já há um consenso entre economistas de que a elevação da taxa de juros, por si só, não é suficiente para garantir a convergência da inflação. O que pesa mais é a incerteza sobre o compromisso fiscal e econômico do governo, especialmente em um momento de queda na popularidade, além dos riscos externos associados às políticas de Trump”, avalia.

Ele entende que no cenário internacional, analistas e banqueiros centrais de outros países foram surpreendidos pela ausência de medidas tarifárias imediatas no início do governo Trump, que havia prometido ações para fevereiro. “Como estamos no fim do mês, isso adiciona um fator de incerteza relevante para as próximas decisões do Copom. Diante disso, a estratégia adotada pelo Banco Central, de manter a comunicação aberta, parece acertada, pois dá tempo para avaliar melhor o cenário e agir de forma mais calibrada”.

Recado claro ao governo

Para Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, o Copom mandou recado claro ao governo sobre a necessidade de uma política fiscal crível para a reancoragem das expectativas de inflação.

“O tom da decisão foi hawkish, destacando a conjuntura da política econômica nos EUA e a desancoragem das expectativas de inflação dos agentes econômicos no Brasil. Em um parágrafo, ressaltou a importância da política fiscal e afirmou que “segue acompanhando com atenção os desenvolvimentos da política fiscal e seu impacto sobre a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida continua influenciando, de forma relevante, os preços dos ativos e as expectativas do mercado.”

Para ele o Copom também destacou a dinâmica dos preços da moeda brasileira como um dos riscos para a inflação, afirmando que “uma conjuntão de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada” pode pressionar ainda mais os preços.

Foto Marcojean/Pixabay

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