Em eleição, o futuro não repete o passado

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Adriano Villela – jornalista

Em O Tempo não Para, o cantor e compositor Cazuza afirma ver “o futuro repetir o passado”. A expressão de um dos melhores letristas dos anos 80 aponta para algo real no nosso cenário político, como promessas não cumpridas, crises e impasses. Mas em eleições isso não prevalece.

Eleitor desde 1989 – quando o país voltou a votar para presidente – e profissional de coberturas e campanhas políticas desde 1998, vejo neste aspecto um dos mais frequentes erros em candidaturas que naufragam nas urnas. Pensar que o contexto de pleitos antigos permanece intacto é um erro fatal. Movimentações nas gestões públicas, na composição política e no próprio eleitorado mexem no tabuleiro.

O presidente Lula, por exemplo, iniciou este ano o terceiro mandato à frente do Planalto depois de perder três corridas presidenciais seguidas (89, 94 e 98) e vencer na sequência em 2002 e 2006. Quem apostou que 2002 seria uma reedição do roteiro anterior ficou pelo caminho.

No próximo ano, em todo o país, deve-se considerar que em 2020 a campanha aconteceu no primeiro ano do novo coronavírus, em que o eleitor ficou bem mais tempo em casa. Do susto pelo aparecimento da Covid-19, atualmente já nos referimos à pandemia como um acontecimento do passado – embora a doença ainda exista, contida pela vacina. O momento é completamente diverso.

Muitos analistas apontam o prefeito Bruno Reis como favorito. E em alguma medida ele é, por ter vencido na eleição passada e estar no comando da máquina municipal. Afinal, é o futuro da prefeitura que será escolhido no voto. Mas a essa altura essa dianteira é muito relativa.

Comparo o quadro pré-eleitoral ao ensaio de uma banda ou uma apresentação teatral. Algo necessário para preparar o grupo, mas de nada vai adiantar se as coisas não acontecerem quando o público estiver assistindo. E agora a população não está voltada para a movimentação política. A conquista do Brasileiro da Série B pelo Vitória ou uma possível queda do Bahia provavelmente alteram mais mentes e, principalmente, corações.

Se a ala governista sai na frente na capital, também é verdade que a base do governo estadual tende a apresentar uma candidatura mais experiente do que em 2020, quando Major Denice – hoje tenente-coronela da PM – estreou na carreira partidária. Tanto o deputado estadual e ex-secretário de Comunicação, Robinson Almeida (PT), como o vice-governador e ex-presidente do legislativo municipal, Geraldo Júnior (MDB), estão acostumados com as urnas. Têm potencial para virar o jogo, o que não significa que necessariamente um dos dois conseguiria assumir a capital.

Sempre existe a possibilidade de um nome surpresa surgir com força. Vide as eleições argentinas no próximo domingo, onde se enfrentarão o ministro da Economia de um governo em que a economia está em crise, Sérgio Massa, e um outsider, Javier Milei.

São acontecimentos e valores que despertam durante a campanha que definem uma eleição, ainda que em parte delas a tendência anterior se confirme. Os resultados que contradizem pesquisas comprovam isso. Surpresas no processo não são exceção, mas a regra.

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