A Confederação Nacional da Indústria, CNI, se manifestou por nota sobre a possibilidade do Banco Central de realizar um eventual aumento da taxa básica de juros. A entidade considera como “medida excessiva para controlar a inflação e prejudica o crescimento econômico”.
A decisão sobre a Selic vai ser anunciada no final do dia pelo Comitê de Política Monetária, Copom, do Banco Central, quando vai decidir o patamar da taxa de juros que atualmente é de 10,5% ao ano. A CNI chama de “equívoco” o possível aumento e também de “excesso de conservadorismo” da parte do BCB.
Na nota é citado que outros países vêm diminuindo as taxas de juros e que o Brasil iria na contramão. “No cenário internacional há uma clara tendência de afrouxamento dos juros, como nas economias centrais. Na semana passada, o Banco Central Europeu promoveu um segundo corte de juros, de 0,25 p.p., reduzindo a taxa para 3,5% a.a. Nos EUA, os dados referentes ao comportamento mais benigno da inflação, associados à desaceleração da geração de novos postos de trabalho, devem levar o Banco Central dos EUA a iniciar o ciclo de flexibilização da taxa de juros norte-americana em sua próxima reunião, esta semana, com expectativa de mais um corte a ser realizado ainda em 2024”.
Outro ponto mostrado pela Confederação diz respeito ao último resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que sinalizou queda de 0,02%, ficando abaixo das expectativas capturadas pelo Relatório Focus do BCB, que projetavam alta de 0,02%. O resultado trouxe queda na inflação acumulada nos últimos 12 meses caiu de 4,5%, em julho, para 4,24%, em agosto, abaixo do teto da meta de inflação para 2024, que é de 4,5%, e abaixo da inflação registrada em 2023, de 4,63%.
De acordo com a CNI, outro fato importante é a expectativa de inflação no horizonte relevante, aquele intervalo de 18 meses à frente, no qual o Banco Central se baseia para definir o nível da Selic. “Esse ponto foi fortalecido pelo Decreto 12.079/2024, que passou a considerar que a meta será descumprida quando a inflação se desviar por 6 meses consecutivos da faixa do respectivo intervalo de tolerância – em vez de considerar apenas a inflação observada ao final do ano calendário”, diz a nota.
Segundo a última previsão feita pelo próprio Banco Central, com um modelo que mantém fixa a Selic em 10,5% a.a., a inflação estaria em 3,2% ao final do horizonte relevante (de 18 meses à frente). Ou seja, apenas 0,2 ponto percentual acima da meta definia pelo Conselho Monetário Nacional, de 3%.
Aumento afeta indústria
A CNI ainda revelou na nota que o aumento da Selic frustraria a recuperação da indústria de transformação e do investimento. No primeiro semestre de 2024, a indústria de transformação registrou alta de 1,9% frente ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, após acumular queda de 1,3% em 2023. Da mesma forma, no primeiro semestre de 2024, o investimento registrou alta de 5,6% frente ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, após acumular queda de 3% em 2023.
A alta da taxa de juros real também dificultaria a sustentabilidade das contas públicas, uma vez que cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros.
Foto Martinelle/Pixabay