Brasileiros devem utilizar segunda parcela do 13º para quitar dívida

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A segunda parcela do 13º salário, que deve ser paga aos trabalhadores até 20 de dezembro, deverá injetar R$ 131,8 bilhões na economia brasileira ainda neste mês, segundo estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O montante representa aumento nominal de 5,7% em relação a dezembro do ano passado e crescimento real de 0,7%, já descontada a inflação do período.

Apesar da expansão dos recursos, o destino do dinheiro segue concentrado no ajuste do orçamento doméstico. Pelo quinto ano consecutivo, o abatimento e a quitação de dívidas deverão ser o principal uso do 13º salário. Em 2025, 35% da segunda parcela — o equivalente a R$ 45,8 bilhões — devem ser direcionados ao pagamento de dívidas, superando os gastos no comércio (R$ 36,5 bilhões) e em serviços (R$ 33,8 bilhões). A poupança deve absorver R$ 15,7 bilhões.

Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, o comportamento reflete a pressão financeira enfrentada pelas famílias. “O 13º salário continua cumprindo um papel essencial no reequilíbrio do orçamento doméstico. Em um cenário de juros elevados e alto comprometimento da renda, as famílias priorizam o pagamento de dívidas, o que é positivo do ponto de vista financeiro, mas limita um impulso maior ao consumo”, afirma.

Endividamento elevado reduz espaço para consumo

A predominância do uso do 13º para quitar dívidas está diretamente associada ao elevado nível de comprometimento da renda no País. A CNC estima que, ao fim de 2025, 30,9% da renda média das famílias estará comprometida com dívidas, patamar historicamente alto e em trajetória de elevação.

Dados do Banco Central indicam que essa relação avançou 0,7 ponto percentual nos últimos 12 meses e deve seguir pressionada pelo menos até o início de 2026. Segundo cálculos da CNC, cada aumento de um ponto percentual no comprometimento da renda reduz em 1,1% a propensão marginal ao consumo.

Além disso, o custo do crédito permanece como um fator restritivo. A taxa média de juros das operações com recursos livres para pessoas físicas alcançou 58,7% ao ano, o maior nível para este período dos últimos oito anos. A inadimplência nessas operações chegou a 5,6% da carteira, o maior patamar em 13 anos.

Segundo o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, o cenário impõe limites claros à expansão do consumo. “Mesmo com um mercado de trabalho mais favorável, o nível elevado de endividamento e o custo do crédito reduzem a capacidade das famílias de transformar o 13º salário em consumo. O recurso ajuda a organizar as finanças, mas o impacto sobre as vendas tende a ser mais contido”, avalia.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, 79,2% das famílias brasileiras estão endividadas, o segundo maior nível da série histórica iniciada em 2010, enquanto 30,0% possuem dívidas em atraso, o segundo maior percentual já registrado para esta época do ano.

Comércio sente efeito positivo, mas com intensidade limitada
Embora a maior parte dos recursos do 13º salário seja direcionada ao pagamento de dívidas, o comércio ainda se beneficia do reforço de renda típico do mês de dezembro. Historicamente, o último mês do ano registra avanço médio de 25% no volume de vendas em relação a novembro, com impacto mais forte em segmentos como vestuário e calçados, livrarias e papelarias e lojas de utilidades domésticas.

Para este ano, a CNC estima que as vendas de Natal deverão crescer 2,1% em volume, já descontada a inflação, indicando um desempenho positivo, porém moderado, diante das restrições financeiras das famílias.

Foto: TierraMallorca/Pixabay

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