Agora parece que vai

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Adary Oliveira é ex-presidente da Associação Comercial da Bahia; Engenheiro químico e professor (Dr.)


Viver aqui no Nordeste nunca foi fácil. O nordestino tem se revelado um forte e continua desafiando as adversidades que o mundo lhe oferece. Os problemas trazidos pelas secas sucessivas, as dificuldades acarretadas pela persistente pobreza, a educação nunca satisfatória, as regiões inóspitas do sertão, a vida nas cidades sem um bom serviço de saneamento e tantos outros percalços.

Entretanto, ele nunca perdeu a esperança e mostra-se alegre para o mundo com suas belas melodias, seus festejos, seu jeito especial de receber visitantes, sua vontade de tudo fazer para viver bem e em paz, esquecendo-se das promessas não cumpridas e seguindo novas juras que não vão acontecer. Continua olhando desconfiado das coisas novas que lhe são mostradas, acreditando, mas sem mesmo acreditar, achando que é verdade, confiando, mas sem mesmo confiar.

O aproveitamento da luz solar na geração de energia elétrica é uma coisa nova, entre outras, que apaga parcialmente a desesperança e desperta a vontade de um dia viver bem, sem os maltratos impostos pela natureza. De novo, a energia solar fotovoltaica é uma dessas realidades em que se pode acreditar e o sol que tanto castigava as terras do sertão parece ter mudado de lado tornando-se uma fonte renovável e perene de riqueza. Outra verdade, é que durante as noites os ventos sopram com mais força e passam a se constituir numa outra fonte inesgotável de riqueza transformando a energia mecânica surgida nos aerogeradores em energia elétrica.

O que se espera agora é que os benefícios trazidos pela novas formas de geração de energia tragam melhoramentos para o sertão e que os minguados pagamentos pelo uso das terras onde se está instalando as torres sejam multiplicados com a vinda de outras fontes de riqueza que a eletricidade tirada do sol e dos ventos podem proporcionar.

Uma outra verdade verdadeira que desponta com força nos sertões, é o do aproveitamento da macaúba para extração de óleo que será usado na fabricação do diesel verde, para substituir o diesel fóssil obtido do refino do petróleo. Existem plantas que se dão bem nas terras do sertão e as oleaginosas são fontes inesgotáveis.

Todos sabem da resistência às secas que têm a mamona, o ouricuri e o pinhão, não existindo tempo ruim para elas. Com uso de novas tecnologias de plantio, cultivo, colheita e transformação industrial, com certeza se conseguirá melhor aproveitamento dessa riqueza que não estranha a vida no semiárido.

O óleo vegetal é também uma fonte renovável que vai substituir o óleo diesel e sabe-se da força do mercado consumidor dos motores de explosão interna que movimentam veículos e máquinas industriais. A fábrica de diesel verde que será instalada nas proximidades da Refinaria Mataripe é o começo de uma mudança sem limites.

O sertanejo é um trabalhador de muita coragem, nunca teme os desafios e se constitui na maior população rural do país, apesar de praticar um trabalho mal remunerado. Imaginem no que ele vai se transformar, no que a valentia dele vai crescer, se ele passar a ser bem pago. Aí é que o sertão vai virar mar, como profetizou o Antonio Conselheiro.

Mas a coisa não para pôr aí. Todos conhecem a força do sisal (agave) e sua capacidade no enfrentamento da seca e de terrenos áridos. Pois bem, foi identificada uma substância no sisal chamada inulina, que por fermentação é transformada em álcool etílico, o nosso popular álcool. Se o sertanejo sabe como transformar o caldo de cana em cachaça, também por fermentação, tem todos os motivos para acreditar que isso é verdade.

Já pensou plantar sisal tendo a certeza de que ele vai ser usado para produzir álcool numa instalação industrial, sumindo com as máquinas paraibanas que extraem as fibras do sisal, de vez em quando decepando mãos e braços dos operadores? Essa é ou não é uma boa notícia? Se fidedigna, com os outros acontecimentos de geração de energia limpa e diesel verde, não merece uma celebração como uma nova esperança fortalecendo a crença que agora melhores dias virão? Ponham isso na mão de gente inteligente e vejam o que vai vir por aí.

As dezenas de usinas de geração de energia elétrica solar fotovoltaica e eólica que estão sendo implantadas no Nordeste, o Projeto Macaúba liderado pela Acelen e o Projeto Bravo, do Senai-Cimatec junto com a Shell, são provas de que isso está acontecendo.

A transformação de fontes naturais em riqueza, sem degradar o meio ambiente e remunerando bem as pessoas, começou a acontecer e promete produzir uma metamorfose sem igual, nunca visto antes. Um impulso inicial capaz de quebrar uma inércia de anos, a constituição de massa crítica formadora de um núcleo propulsor, nos faz acreditar que agora a coisa vai.

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