A experiência dos mais velhos

Você está visualizando atualmente A experiência dos mais velhos

Adary Oliveira é ex-presidente da Associação Comercial da Bahia; Engenheiro químico e professor (Dr.) 

É comum se definir fenômeno como tudo aquilo que acontece na natureza. Um fenômeno é chamado de físico quando as substâncias envolvidas não se alteram, permanecendo com as mesmas características. Uma árvore depois de derrubada, o tronco depois de serrado, a madeira desdobrada em peças e as peças usadas para a fabricação de móveis, por exemplo, são transformações físicas, onde não há alteração da natureza da matéria. A madeira da árvore continua sendo a madeira dos móveis. Diz-se que houve uma transformação física. No entanto, quando um ácido reage com uma base forma sal e água. Tanto o sal como a água são completamente diferentes do ácido e da base, são outras substâncias, têm outros atributos. Diz-se que houve uma transformação química. Neste caso o fenômeno é químico.

As leis da física e da química são conhecidas o que permite uma previsão de acontecimentos futuros. Usando-se equações e fazendo-se os cálculos através de computadores se pode fazer, com certa exatidão, a previsão do tempo, por exemplo. As variáveis são inúmeras, como as temperaturas, os ventos, as correntes de ar, a umidade, a insolação, e a cada dia se vai aperfeiçoando esses estudos e as previsões se tornam mais confiáveis. Sempre se inventa uma substância nova para novas aplicações, como as resinas usadas na fabricação de plásticos, fios têxteis, elastômeros, tensoativos, fertilizantes, defensivos agrícolas, corretivos de solos, pigmentos para tintas e grande número de aplicações na indústria de transformação.

O mesmo não se pode dizer dos fenômenos sociais. Existem leis sociais, mas são mais complexas e menos precisas. Um flerte pode dar em namoro, um namoro pode resultar em noivado, de um noivado pode brotar um casamento, mas nem sempre. Também o casamento pode ser duradouro ou não. Eu sou casado há 57 anos e certa vez, quando ainda morava no Rio de Janeiro, conversava com o escritor sergipano Joel Silveira numa reunião social na casa de um amigo comum, quando ele se dirigiu para minha mulher Bernadeth e perguntou: vocês se conheceram onde? Ela respondeu: foi lá em Ruy Barbosa, interior da Bahia. Joel, com toda a sua experiência de jornalista correspondente na Itália durante a Segunda Grande Guerra, assegurou: isso não acaba nunca. Também os tempos eram outros, a gente se conhecia melhor antes do casamento, éramos menos apressados, mais analógicos e menos digitais, as leis sociais mudaram.

Ainda no campo dos fenômenos sociais, meus alunos adoravam quando eu dava conselhos sobre seus comportamentos como profissionais. Eu dizia-lhes que quando recebessem a oferta de algum emprego respondessem, sem titubear, sim. Ganharia tempo para pensar, refletir, avaliar com calma a oportunidade, o que não seria possível se apressadamente respondessem não. O lugar seria ocupado por outra pessoa e podia não dar para reverter a situação. Quando meu amigo Luiz Sande foi escolhido para ser presidente do BNDES me telefonou e perguntou se eu desejaria ir para o Rio de Janeiro, para ser diretor de uma das subsidiárias do BNDES. Eu respondi que sim e segui para o Rio no dia seguinte. Foi a melhor decisão que tomei no campo pessoal. Se não tivesse assim procedido teria perdido o lugar.

Em outra situação muito singular eu os aconselhava a não tomarem decisões precipitadas quando estivessem participando de uma reunião. Eu afirmava que, para não me contrapor a proposições aparentemente valorosas, eu não costumava ficar contra uma coisa que achava que não ia acontecer. Nada respondia. É o que eu sempre digo quando me perguntam qual é minha opinião sobre a construção da Ponte Salvador-Itaparica. Já vi sucederem-se cerca de vinte anos e já estou com 82 de idade. Até agora, para mim, é uma verdade.

Outro conselho bem razoável para se seguir no ambiente de trabalho é o de não entrar em bola dividida, como se diz no futebol. Não vale a pena alimentar adversidades muitas vezes difíceis de superar. Em certos ambientes de trabalho é comum encontrar pessoas que são donos do pedaço, não admitem a entrada de concorrentes. Se for possível, procure outra coisa para fazer, evite entrar em rota de colisão. Creio que me sai muito bem trabalhando no BNDES. Ali o universo era muito amplo e era sempre possível identificar algo que precisava se tocado sem criar conflitos. De qualquer maneira vale a pena se espelhar na experiência dos mais velhos.

Compartilhe:

Deixe um comentário