Do cripto ao mainstream: lições das fraudes em criptomoedas para bancos e fintechs

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Mateusz Chrobok, Head de Inteligência de Fraude da Nethone

O crescimento explosivo do mercado de criptomoedas nos últimos anos chamou a atenção não apenas de investidores e empreendedores, mas também de fraudadores. Golpes como phishing, manipulações emocionais (o chamado “pig butchering”) e invasões de conta (conhecidas pela sigla ATO – account takeover) se multiplicaram no ambiente das moedas virtuais, facilitado pela natureza descentralizada e o anonimato deste modelo. Mas o que poderia ser tomado como uma especificidade de um mercado com baixa regulação vai muito além e tem impactos no sistema financeiro como um todo.

Ao mirar neste nicho, o que os fraudadores fazem é criar um “laboratório” de testes para novas táticas, que rapidamente se espalham para outros setores digitais. Fintechs, neobanks e instituições financeiras tradicionais precisam estar atentas a estas movimentações. Na prática, cada inovação criminosa observada no ecossistema cripto tende a ser replicada em outros setores em questão de meses, um sinal de alerta que exige vigilância constante.

Fraudes em cripto: um ecossistema de experimentação criminosa

Segundo pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1 em cada 3 brasileiros sofreu golpe digital com prejuízo financeiro no período de julho de 2024 a junho de 2025. Os dados reforçam como a população está cada vez mais exposta a ataques virtuais, algo que ganha velocidade conforme mais pessoas se mostram dispostas a aderir a novas tecnologias e tendências.

É o caso das criptomoedas, que atraem milhões de investidores em busca de retornos rápidos, muitas vezes embalados por promessas de ganhos fáceis. Esse apetite por risco cria um terreno fértil para golpes emocionais e esquemas fraudulentos, como as pirâmides financeiras disfarçadas de investimentos legítimos. Ao mesmo tempo, a complexidade técnica envolvida no uso de carteiras digitais, chaves privadas e protocolos de segurança representa um obstáculo para o usuário médio, que se torna alvo fácil de ataques.

Segundo a Chainalysis, golpes ligados a rug pulls (fraudes em que desenvolvedores lançam projetos de tokens ou NFTs, atraem investidores e depois abandonam a iniciativa levando os recursos arrecadados) representaram 37% da receita criminosa em cripto em 2022, evidência de como novas táticas surgem e rapidamente ganham escala.

O uso de deepfakes, spoofing e automação por bots também é frequentemente observado nesse ambiente, impulsionado por redes sociais, grupos em aplicativos de mensagens e fóruns digitais que amplificam golpes e dão visibilidade a projetos duvidosos. Essa combinação de inovação criminosa acelerada e canais de propagação paralelos faz com que golpes eficazes se consolidem rapidamente e, em seguida, migrem para setores mais maduros do mercado financeiro digital.

Como golpes do cripto estão migrando para bancos e fintechs

A história recente mostra como golpes evoluem junto com a tecnologia. Se no passado a grande preocupação estava concentrada em clonagem de cartões, falsificação de boletos e golpes de falsos atendentes bancários, hoje as técnicas validadas nos nichos mais digitalizados do mercado já se espalham por todo o setor financeiro, atingindo empresas tradicionais e consumidores comuns.

É o caso, por exemplo, do Account Takeover (ATO), uma das formas mais comuns e críticas da fraude digital atualmente, em que há a tomada de uma conta legítima por um fraudador que obtém acesso a ela por meio de credenciais roubadas, vazadas ou obtidas por engenharia social.

Embora esse tipo de ataque ainda esteja presente em relação a carteiras de criptomoedas, hoje em dia os fraudadores estão cada vez mais mirando contas correntes tradicionais, especialmente contas antigas e confiáveis, que têm menos probabilidade de serem sinalizadas automaticamente por sistemas tradicionais de detecção de fraudes com base em regras rígidas e histórico de transações.

É possível notar a mesma evolução em diversas outras técnicas e ataques, como o uso de bots e automações maliciosas e até mesmo a criação de campanhas de phishing bastante persuasivas, personalizadas via IA.

Aprendizados e respostas para o setor financeiro

Se as técnicas dos fraudadores evoluem rápido, o mesmo deve acontecer com a prevenção. Combater fraudes exige um equilíbrio entre manter um olhar atento às estratégias utilizadas nos setores mais visados pelos criminosos e a rápida adoção de tecnologias e estratégias que respondam às principais deficiências registradas.

Neste cenário, acompanhar de perto as movimentações do universo cripto se mostra fundamental para vislumbrar as próximas ameaças a que qualquer negócio estará sujeito. Quem fizer isso e adotar as devidas precauções irá conquistar uma vantagem competitiva baseada em confiança, segurança e experiência do cliente. Em um ambiente onde a fraude evolui com tecnologia, a defesa também precisa ser dinâmica.

Foto methodshop/Pixabay

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