Inadimplência condominial no Brasil atinge 11,95%, maior patamar desde 2022

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A inadimplência de taxas condominiais superior a 30 dias no Brasil chegou a 11,95% no primeiro semestre de 2025, de acordo com levantamento nacional da uCondo, plataforma de gestão condominial que reúne mais de 620 mil usuários ativos. Este é o maior índice registrado desde o início de 2022 e marca um salto relevante em relação ao mesmo período de 2024, quando a taxa era de 9,99%.

Desde 2022, o cenário mostra oscilações que refletem diretamente o ambiente econômico do país. A inadimplência caiu de 9,72% de janeiro a junho de 2022 para 8,65% de julho a dezembro, mas voltou a subir nos semestres seguintes, mantendo uma constante e elevando consideravelmente em 2025.

Segundo Léo Mack, cofundador da uCondo e especialista em sistemas de informação, o crescimento da inadimplência é multifatorial. “Estamos sofrendo com altas taxas de juros, o que impacta diretamente o bolso dos brasileiros. Quando as pessoas param de pagar as taxas condominiais, é porque provavelmente já deixaram de arcar com outras contas. É um sinal de alerta, assim como deixar de pagar aluguel ou financiamento imobiliário”, afirma.

Esse movimento reflete o contexto macroeconômico nacional. De acordo com o relatório Mapa da Inadimplência, divulgado pela Serasa em agosto de 2025, o país contabiliza 78,02 milhões de brasileiros com o nome negativado, o que representa 48,31% da população adulta. A maioria dos inadimplentes está concentrada nas faixas etárias de 30 a 40 anos (32,3%) e 40 a 50 anos (26,2%), e a distribuição por gênero é equilibrada: 50,2% mulheres e 49,8% homens.

Regiões Norte e Nordeste puxam aumento

O recorte por região revela onde o impacto foi mais severo. O Norte do país atingiu a marca de 18,44% de inadimplência superior a 30 dias no 1º semestre de 2025, o maior índice do país. Em segundo lugar, o Nordeste, com 13,52%, seguido pelo Sudeste, com 11,78%. A região Sul apresentou o melhor desempenho, com 9,45%, e o Centro-Oeste marcou 10,21%.

Taxas condominiais também subiram

O aumento da inadimplência acontece em paralelo à elevação do valor médio das taxas condominiais. A média nacional passou de R$ 501 (2024-S2) para R$ 516 (2025-S1). No Sudeste, a taxa ficou em R$ 516,84; em São Paulo, especificamente, a média é de R$ 462. Já no Sul, onde os condomínios tendem a ter estruturas mais completas, o valor médio atingiu R$ 537,32.

Expectativa de estabilização, com ressalvas

Apesar do cenário atual, a projeção é de estabilidade para o segundo semestre de 2025, com base em fatores como a deflação registrada em agosto, a possível queda da Selic e uma inflação que, se cuidada pela manutenção das taxas pelo Banco Central, poderá dar sinais de desaceleração.

“Olhando os dados recentes do IPCA e as expectativas do Banco Central, podemos estar próximos de um teto. Se isso se confirmar, a tendência da inadimplência pode começar a se inverter nos próximos trimestres”, diz Mack.

O diretor de Operações da uCondo, Léo Mack, observa que o aumento da inadimplência condominial também está diretamente ligado à má gestão das cobranças. “Quando não há comunicação clara entre síndicos e moradores, políticas bem definidas de cobrança ou penalidades ao pagamento em atraso desrespeitando quem paga em dia, o problema tende a se agravar”, afirma.

Segundo ele, a transparência e o diálogo são pilares essenciais para reverter o cenário. Entre as medidas que podem ser adotadas, Mack destaca a importância de informar com frequência os condôminos sobre prazos, multas e juros por atraso, além de estruturar procedimentos claros para notificações e negociações de dívidas antes de recorrer à Justiça.

Outras práticas também podem fazer diferença, como oferecer descontos para quem paga antecipadamente, estimular a participação dos moradores em assembleias e buscar a redução de despesas comuns, revisando contratos e otimizando o consumo de água e energia. “Um condomínio equilibrado financeiramente é resultado de uma gestão transparente e de moradores bem informados”, conclui.

Para o administrador de condomínios Marcelo Paes, o diagnóstico de Mack reflete o que vem sendo observado na rotina de síndicos e gestores em todo o país. “De fato, a inadimplência tem múltiplas causas e não se resolve apenas com cobrança. A comunicação clara e o diálogo constante com os moradores fazem toda a diferença”, afirma.

Segundo ele, muitas administradoras têm buscado estratégias para equilibrar as contas sem comprometer o convívio. “Vemos condomínios oferecendo descontos para quem paga até o vencimento e adotando uma postura mais empática nas negociações, alongando prazos e propondo acordos que caibam no bolso do morador. Ao mesmo tempo, há um esforço em rever contratos e reduzir despesas, como energia e manutenção, para aliviar o caixa”, explica.

Marcelo acrescenta que, quando essas medidas não bastam, cresce o interesse por soluções como as garantidoras de condomínio, que assumem o risco da inadimplência e repassam o valor integral da taxa condominial à administração. “Essas parcerias, que costumam reter de 6% a 10% da receita mensal, trazem previsibilidade e ajudam a manter o fluxo de caixa saudável — o que é essencial para qualquer condomínio enfrentar momentos de instabilidade econômica”, conclui.

Foto Pexels

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