O primeiro trimestre de 2025 foi desafiador para a indústria química brasileira, com quedas em todas as variáveis monitoradas, como aponta o Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Abiquim. Em comparação com o mesmo período de 2024, a produção recuou 3,8%, as vendas internas caíram 2,6% e o Consumo Aparente Nacional (CAN), que engloba a produção somada às importações e subtraídas as exportações da amostra RAC, registrou uma retração de 5,3%.
Esses números deixam clara a persistente perda de competitividade do setor no cenário global, especialmente diante da concorrência desleal de insumos importados, sobretudo dos EUA e da Ásia, além dos altos custos de energia, gás natural e tributação.
A utilização da capacidade instalada atingiu um patamar médio de 62% no primeiro trimestre de 2025, uma queda de três pontos percentuais em relação aos 65% registrados no mesmo período de 2024. Este é o menor nível médio de operação de toda a série histórica da entidade, que remonta a 1990. Consequentemente, o nível de ociosidade atingiu 38%, o pior patamar dos últimos 30 anos. Setores como intermediários para fertilizantes (43%), intermediários para plásticos (45%), intermediários para fibras sintéticas (51%) e intermediários para plastificantes (53%) apresentaram níveis de ociosidade acima da média geral.
Em relação aos preços nominais, medidos pelo IGP Abiquim-Fipe, o segmento de produtos químicos de uso industrial acumulou uma inflação de 2,9% no primeiro trimestre de 2025. Deflacionados pelo IPA-Indústria de Transformação (FGV), os preços médios nominais aumentaram 3,1%. Contudo, ao considerar o Dólar, os preços médios reais estão 11,0% maiores em relação a dezembro de 2024, e em relação ao Euro, os preços locais exibem um aumento de 6,8%, reflexo da desvalorização do Dólar (7,3%) e do Euro (3,7%) frente ao Real.
Efeitos da Lista DCC
Importante destacar o papel fundamental do Governo Federal na reversão desse cenário desafiador. Em outubro de 2024, após a atuação da Abiquim, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) incluiu 30 produtos químicos estratégicos na Lista por Desequilíbrios Comerciais Conjunturais (DCC).
Os efeitos dessa decisão já são visíveis e promissores. No primeiro trimestre de 2025, o coeficiente de penetração de importações (medido pela participação das importações no consumo aparente da amostra RAC) atingiu 43%, uma redução de dez pontos percentuais em relação aos 53% registrados no mesmo período de 2024. Esse resultado não apenas valida a continuidade dessa iniciativa, mas também ressalta a necessidade de uma vigilância contínua e ativa na defesa comercial da indústria química nacional, especialmente frente às recentes dinâmicas geopolíticas, onde as principais economias buscam fortalecer suas cadeias produtivas internas.
Crescimento impulsionado por Importações
Analisando os últimos doze meses acumulados até março de 2025, o cenário se inverteu, com todas as variáveis apresentando resultados positivos: produção (+3,4%), vendas internas (+6,7%), preços (+12,9%) e CAN (+3,2%). É importante notar que as importações da amostra também registraram elevação de 5,9% nesse período, suprindo as necessidades da demanda interna.
Como resultado, o coeficiente de penetração de importações, que mede a participação das importações no consumo aparente, atingiu quase metade (49%) de todos os produtos químicos de uso industrial consumidos no Brasil, na média dos últimos doze meses até março de 2025. As importações de resinas termoplásticas (+23,7%), outros produtos inorgânicos (+31,2%), outros produtos químicos orgânicos (+27,4%), intermediários para fibras sintéticas (+28,6%), solventes industriais (+14,7%) e produtos petroquímicos básicos (+8,6%) tiveram destaque nesse período.
Os preços nominais (IGP Abiquim-Fipe), acumulados nos últimos doze meses até março de 2025 e deflacionados pelo IPA-Indústria de Transformação (FGV), registraram um aumento de 5,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No entanto, ao serem deflacionados pelo Dólar, os preços reais caem 1,8%, e pelo Euro, a queda é de 1,7%.
Segundo André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim, é importante ressaltar que a indústria química nacional atua como tomadora de preços no mercado internacional, sendo impactada pelas flutuações do barril de petróleo, nafta petroquímica e gás natural, influenciadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, além das condições de oferta e demanda globais. A flutuação do Real em relação ao Dólar também exerce impacto significativo nos preços praticados no mercado doméstico.
Balança Comercial e Déficit Crescente
A balança comercial de produtos químicos entre abril de 2024 e março de 2025, mostra que o Brasil importou US$ 65,78 bilhões em produtos químicos e exportou US$ 15,96 bilhões. Como resultado, o déficit nacional na balança comercial alcançou US$ 49,82 bilhões no período analisado, superando o déficit de US$ 48,68 bilhões registrado em 2024.
Dentro desse contexto, o presidente da Abiquim destaca a essencialidade do Presiq – Programa Especial de Sustentabilidade de Indústria Química – matéria de autoria do Deputado Federal Afonso Motta (PDT-RS) e que pretende alavancar o segmento por meio de estímulos fiscais inteligentes, a partir da adoção de processos de baixo carbono na produção.
“Apesar dos esforços contínuos do Governo Federal e do Congresso nos últimos dois anos para a recuperação do setor – a Lista DCC, a retomada do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) e a criação do Reiq Investimento, para fomentar investimentos em infraestrutura, inovação tecnológica e expansão da capacidade produtiva – o Presiq pode ser ainda mais estruturante para a economia. Além de reduzir o déficit comercial do setor químico e ter como uma das metas, operar até 95% da capacidade instalada de suas plantas, podemos ter um impacto positivo estimado de R$ 112 bilhões no PIB, com geração de até 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos. Já a arrecadação pode ter um adicional de R$ 65,5 bilhões em tributos para o Brasil”, explicou Passos.
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