Adary Oliveira, ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, Engenheiro químico e professor (Dr.)
Contam que os catadores de mariscos da Baía de Todos os Santos à medida que capturam caranguejos os amarram uns aos outros fazendo uma corda para que não fujam da praia onde os colocam. Cada um dos caranguejos se movimenta em uma direção e terminam por não saírem do mesmo lugar. Muitas vezes numa empresa, numa igreja, numa ONG, ou mesmo no governo, a discussão a procura por uma solução para um problema aparentemente simples se desenrola dando voltas em círculo, sem sair do mesmo lugar, como uma corda de caranguejos.
Na quinzena passada publiquei um artigo mostrando como poderia ser solucionado o problema dos telefones celulares nas celas das penitenciárias, retirando a tomada usada para recarregamento. Ilustrei o artigo com exemplos das salas de espera dos elevadores de um hotel, invenção do elevador panorâmico no caso da falta de espaço interno de um shopping center, a ocultação da poluição de uma eletrossiderurgia, as embalagens que saiam vazias da linha de produção de uma fábrica de dentifrícios e o aumento das vendas de um fabricante de tubos de pasta de dentes. Para cada caso uma receita simples e criativa.
Em uma fábrica de caprolactama no Polo Petroquímico de Camaçari, enfrentou-se com dedicação a busca de uma saída para um problema de difícil solução, e chegou-se uma porta por alteração do processo produtivo recheado de inovação e ineditismo. A usina era constituída de seis fábricas montadas em série. Uma delas apresentava um problema de capacidade de produção menor que as outras. O gargalo estava num reator que transformava ciclohexanol em ciclohexanona por hidrogenação. Uma primeira alternativa era de substituir o reator por outro de dimensão maior. Uma segunda, instalar em paralelo outro reator de capacidade menor, e assim surgiam várias opções. Um dos técnicos teve uma ideia sensacional, substituir o catalizador fornecido pelo cedente de tecnologia holandês, por outro não usado ainda em plantas de caprolactama. Primeiro se fez uma pesquisa na literatura técnica existente, quando foram identificados dez catalizadores industriais de hidrogenação. Em seguida se adquiriu uma pequena amostra de cada um deles e se fez testes de bancada. Os quatro que apresentaram melhor resultado foram testados num planta semi-industrial em São Paulo, tendo aí identificado o que parecia melhor. A decisão da troca do catalizador por um outro de fabricação francesa resultou na elevação da capacidade da planta de 35 mil t/ano para 57 mil t/ano. Aumentou-se a produção consideravelmente com baixíssimo custo.
Nem sempre é assim. A indústria automobilística encontra-se atualmente diante um dilema que está longe de encontrar uma solução definitiva para o problema da substituição dos combustíveis de origem fóssil por outros que sejam renováveis, que não agravem a indesejável poluição atmosférica e que apresentem menor custo operacional. Será que a ideia do carro elétrico veio para ficar? O carro movido a álcool ou outro biocombustível não seria mais adequado? O carro movido a hidrogênio não seria mais apropriado no momento? Os lançamentos são de grande monta e todos ganham espaço no mercado, mas não se tem ainda uma alternativa considerada a melhor, e enquanto isso estamos diante de um dilema sem saber ao certo qual a melhor escolha.
Um outro problema, que tem tirado o sono do governo, de grande envergadura, é como evitar a elevação dos preços dos alimentos ameaçando uma disparada da inflação. Várias opções foram colocadas no tabuleiro das ideias: aumentar o prazo de validade dos produtos acondicionados em embalagens; trocar a compra de uma fruta que ficou cara por outra mais barata; deixar de consumir um produto que teve seu preço aumentado por um mais em conta; e remover impostos dos alimentos. Para complicar mais eis que se aumenta o preço do óleo diesel, procurando-se corrigir uma defasagem de mais de 20% decorrente da elevação do preço do petróleo e encarecimento do dólar, entre outros acontecimentos. Não tendo alternativa, os caminhoneiros serão obrigados a buscar compensação no frete, o que aumenta o custo da comercialização.
Um puxa para lá, outro estica para cá e enquanto não se chega a um acordo, enquanto não se encontra uma saída, todos são condenados a ficar sem direção, girando no mesmo lugar, como uma corda de caranguejo.
Foto: Café com Informação