Para marcar o Mês da Consciência Negra, a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) divulga um panorama sobre a desigualdade racial no estado, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC/IBGE, 2024). O levantamento mostra que a Bahia é a segunda unidade federativa com maior proporção de população negra do país, com 80,7% dos baianos autodeclarados pretos ou pardos. E com 24,4% da população autodeclarada de cor preta em 2024, a Bahia se confirma como a unidade da Federação com o maior percentual de pretos do país.
A análise da SEI destaca contrastes marcantes em educação, trabalho, renda e acesso a oportunidades. Embora os negros representem 81,9% da força de trabalho baiana, são também maioria entre desempregados, desalentados e trabalhadores informais. A taxa de desocupação entre negros (11,1%) supera a dos brancos (9,5%), diferença que se acentua entre mulheres negras, cuja taxa chega a 14,6%. A renda também expõe o descompasso: em 2024, trabalhadores brancos ganharam, em média, 52,3% a mais que negros no estado. No recorte educacional, apenas 11,1% dos negros baianos tinham 16 anos ou mais de estudo, frente a 20,3% dos brancos. Segundo a SEI, os dados reforçam que, apesar de avanços, as desigualdades raciais permanecem estruturais e exigem políticas públicas contínuas para garantir equidade social e econômica na Bahia. Confira a análise a seguir.
Aspectos da Desigualdade Racial na Bahia
Há avanços e transformações em curso, mas, sem dúvida, a componente cor ou raça em território brasileiro ainda se constitui em fonte de desigualdade, a qual se encontra espraiada – e, às vezes, camuflada – em diversas dimensões da vida social. A fim de melhor conhecer o cenário, aproveitando o mês da Consciência Negra, a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), tendo por base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traçou um breve perfil da população negra na Bahia e fez uma análise de alguns indicadores que possam expor fragilidades sociais e econômicas relacionadas a questões de cor ou raça no estado no ano de 2024.
Do levantamento e análise desses indicadores, pode-se destacar o seguinte:
– Em 2024, o Brasil possuía 120,317 milhões de negros, indivíduos autodeclarados pretos ou pardos.
– A Bahia tinha 11,970 milhões de pessoas negras em 2024, aproximadamente 9,9% do total de negros do país – terceiro maior quantitativo entre as unidades federativas.
– A Bahia concentrava 16,0% de pretos e 8,5% de pardos do país em 2024 – segundo e terceiro maiores contingentes do território brasileiro respectivamente.
– Em 2024, da população baiana, 80,7% se autodeclaravam negros – estimativa maior do que as do Brasil (56,8%) e do Nordeste (74,4%) e a segunda maior entre as unidades federativas.
– Em 2024, a população baiana era formada por 56,3% de pardos, 24,4% de pretos, 18,0% de brancos e 1,3% de indígenas, amarelos e pessoas sem declaração de cor ou raça.
– A Bahia, com 24,4% da população autodeclarada de cor preta em 2024, se confirmou como a unidade da Federação com o maior percentual de pretos do país.
– No que tange à educação, em 2024, na Bahia, proporcionalmente mais brancos do que negros possuíam pelo menos 16 anos de estudo: 11,1% destes contra 20,3% daqueles – ou seja, uma diferença de 9,2 pontos percentuais em desfavor dos negros.
– O percentual de indivíduos sem instrução ou com até quatro anos de estudo foi maior entre os negros baianos (22,2%) do que entre os brancos baianos (20,4%) em 2024.
– Em 2024, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi de 9,8% para os negros e de 8,7% para os brancos na Bahia.
– Em 2024, na Bahia, apesar de representarem 81,9% da força de trabalho, 78,7% da população fora da força de trabalho e 82,1% da força de trabalho ampliada, os negros compunham 83,9% dos desocupados, 85,9% dos desalentados e 84,4% dos subutilizados – ou seja, há uma sobrerrepresentação da população negra no contexto de alguns indicadores em que quanto maior a estimativa, mais desfavorável a situação do grupamento.
– A taxa de desocupação foi de 11,1% para a população negra e de 9,5% para a branca na Bahia em 2024 – uma diferença de 1,6 ponto percentual em desfavor dos negros.
– A desocupação se mostrou ainda mais sintomática com o reforço da dimensão gênero: o desemprego atingiu 14,6% das mulheres negras na força de trabalho correspondente, percentual bem maior do que para brancas (8,6%), negros (8,4%) e brancos (10,3%).
– A informalidade, como esperado, afetou mais amplamente os trabalhadores negros do que os brancos no estado em 2024, com uma taxa de 48,0% para estes e de 52,7% para aqueles.
– Com a adição do recorte por gênero, na Bahia, os homens ocupados negros eram aqueles que se encontravam proporcionalmente mais na informalidade em 2024, com uma taxa de 55,2% – tendo sido de 54,2% para os ocupados brancos, 49,4% para as ocupadas negras e 40,2% para as ocupadas brancas.
– Entre as atividades informais, vale destacar, em 2024, o trabalho doméstico sem registro em carteira no estado era composto por nada menos do que 82,1% de mulheres negras.
– O desalento atingiu mais intensamente os negros do que os brancos na Bahia em 2024: o percentual de desalentados entre aqueles fora da força de trabalho foi de 11,8% para a população negra e de 7,0% para a população branca.
– No que se refere ao desalento, a desagregação adicional por gênero indicou a continuidade da assimetria por raça ou cor no ano analisado, já que foi maior para negros (11,7%) do que para brancos (7,9%) e foi maior para negras (11,9%) do que para brancas (6,4%) no estado.
– O rendimento médio mensal do trabalho principal se mostrou maior para os brancos do que para os negros em 2024 na Bahia: enquanto os trabalhadores da raça negra receberam R$ 1.910 em média, os da cor branca auferiram R$ 2.909 – ou seja, o rendimento médio mensal das pessoas brancas ocupadas foi 52,3% maior do que o da população de ocupados pretos e pardos.
– O recorte adicional por gênero permitiu continuar averiguando a existência de desigualdade por raça ou cor quanto ao rendimento do trabalho em 2024 no território baiano: i) enquanto os homens brancos receberam, em média, R$ 3.052, os homens negros ganharam R$ 2.019 – ou seja, a remuneração média daqueles foi 51,1% maior do que a destes; e ii) enquanto as mulheres brancas ganharam, em média, R$ 2.726, as mulheres negras auferiram apenas R$ 1.756 – ou seja, a remuneração média daquelas foi 55,2% maior do que a destas.
Enfim, mesmo que progressos possam ser reconhecidos, há ainda muitos desafios e, portanto, espaço para melhorias que transformem positivamente a realidade da população negra. As desigualdades que fragilizam e, até mesmo, marginalizam e excluem pretos e pardos persistem no seio da sociedade brasileira e não podem ser negligenciadas – ainda mais na Bahia, território geográfico cuja identidade singular tem influência marcante da população negra. Sem dúvidas, além da conscientização da existência de disparidades raciais, o fortalecimento de políticas públicas relacionadas ao tema se configura em estratégia fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nesse contexto, vale reforçar, a tarefa de edificação de uma sociedade lastreada pela igualdade racial deve ser executada de forma ininterrupta.
*Informações da Coordenação de Pesquisas Sociais (Copes/Dipeq/SEI).
Foto: Joá Souza-GOVBA
