Adary Oliveira – engenheiro químico e professor (Dr.)
Uma das tarefas de mais difícil realização, com a qual me deparei na minha vida, foi
quando eu era dirigente do sindicato dos patrões no Polo Petroquímico de Camaçari.
Sabia das dificuldades de se administrar o conflito que existe entre o capital e o
trabalho e me preparei para bem executá-la. Muitos de meus amigos diziam que eu
seria crucificado, que era impossível sair vencedor de uma batalha dessa
complexidade. Na ocasião eu recebera de presente um exemplar do livro “A Arte da
Guerra”, do chinês Sun Tzu, escrito há mais de dois mil anos. Fiz desse livro meu
conselheiro de cabeceira e me preparei para a batalha.
Os adversários que se sentavam do outro lado da mesa eram pessoas inteligentes, sindicalistas que se dedicavam em tempo integral à defesa de seus interesses como se estivessem em guerra. Prova de que eles eram astutos é que dois deles são hoje pessoas de destaque na política nacional, tendo sido inclusive governadores da Bahia. Liderando as
negociações do lado dos patrões submeti-me a um treinamento, tendo gostado muito
dos ensinamentos de Sun. Um dos que mais me chamou atenção estava contida numa
frase simples que dizia: “Quando cercar um inimigo, deixe sempre uma saída, não
subestime um soldado desesperado”. Não foi difícil fecharmos um acordo e a
negociação da Convenção Coletiva de Trabalho foi concluída em tempo recorde.
Um outro trecho do livro trazia quatro afirmativas que considero verdades de
perfeição lapidar, mostrando que se pode fazer muito com muito pouco: a) Em
batalha, não há mais do que dois métodos de ataque: o direto e o indireto. Mas estes
dois combinados geram uma série interminável de manobras; b) Não há mais do que
três cores primárias: azul, vermelho e amarelo. No entanto, combinadas elas
produzem mais tons do que podem ser percebidos; c) Não há mais do que cinco
sabores básicos: doce, amargo, ácido, salgado e umami. Porém, as suas combinações
geram mais sabores do que alguma vez se conseguiria provar; e d) Não há mais do que
sete notas musicais: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si. Contudo, a combinação dessas sete notas
dá origem a mais melodias que poderemos ouvir em uma vida.
Os livros de economia trazem uma afirmação que também considero uma verdade
verdadeira: Os fatores de produção são três: capital, trabalho e terra. O capital refere-se aos recursos financeiros, o trabalho aos recursos humanos e a terra aos recursos
materiais. A combinação dos três produziram toda a riqueza que existe no mundo.
Recentemente (31/05) publiquei nesta coluna da Tribuna da Bahia artigo em que
citava quatro projetos importantes para a Bahia: Projeto BRAVE do Senai Cimatec; óleo
diesel vegetal da Acelen; geração de energia eólica e solar da Quinta Energy; e
Hidrogênio e Amônia verdes da Unigel. Agora aponto as coisas que têm em comum e
são passíveis de serem realizados indefinidamente, bastando que não se descuide de
os manterem atualizados do ponto de vista tecnológico.
Para a produção de energia elétrica os insumos são o vento e o sol, abundantes no
semiárido. O suprimento do sisal e da macaúba vai ser implementado com novas
tecnologias resultantes de pesquisas. Para o hidrogênio verde a matéria prima
principal será a água e para a amônia verde o nitrogênio formador de 78% do ar
atmosférico. As empresas líderes são da iniciativa privada, são empresas sólidas e não
têm limitação de capital. Os recursos humanos, na sua maioria, serão formados por
gente do interior, que já mostraram que são conhecedores do semiárido e provaram
ser excelentes técnicos na operação de plantas industriais complexas, inclusive de
unidades químicas e petroquímicas de nosso parque fabril. Os mercados consumidores
de etanol, hidrogênio, amônia, óleo diesel vegetal e energia elétrica não são fatores
limitantes e crescem junto com o número de habitantes.
Só nos resta torcer para que nada se anteponha aos projetos e que se acredite na
possibilidade de suas realizações. Além do mais, a relação dos projetos acima não
esgota o assunto, estando em andamento outros que estão sendo planejados e alguns
em fase de pesquisa. Espera-se obter pleno apoio do governo na concessão de
incentivos, com inclusão daqueles necessários para a abertura da capital das
companhias na direção da sua democratização.
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