“Retaliação não é a melhor saída”, diz especialista sobre tarifaço de Trump

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Alessandra Nascimento  – Editora-chefe

Atuar em várias frentes, seguindo os ritos da diplomacia, envolver a OMC e aliados dos Estados Unidos na Europa. Esses são alguns conselhos dados pelo economista e professor da FIA Business School, Dr. José Carlos de Souza Filho para o Brasil conseguir lidar com o novo desafio imposto pelo governo Trump: o tarifaço. Ele avisa que a retaliação não é a melhor saída e aponta a diversificação de mercados fornecedores de produtos comprados dos Estados Unidos como passo estratégico.

“É importante lembrar que a balança comercial entre os dois países é favorável para o lado dos EUA”, recorda. O especialista considera importante para o Brasil intensificar negociações no Mercosul, União Europeia e com os BRICS e, caso a situação não se resolva, a contratação de uma empresa especializada em lobby para atuar junto aos democratas no Congresso Americano. “É necessário tomar cuidado para evitar retórica antiamericana, mas mantê-los informados sobre as reais consequências da medida de Trump”.

Suprema Corte Americana

José Carlos comenta sobre a possibilidade da Suprema Corte Americana entrar no circuito uma vez que o tarifaço atinge empresas norte-americanas e vai afetar o desemprego por naquele país. “Isso pode ocorrer se o Congresso ou governos de estados norte-americanos questionarem a legalidade das medidas sem aprovação legislativa, se houver entendimento que a medida afeta de forma significativa o nível de emprego e se as cadeias produtivas americanas forem diretamente atingidas. Importante verificar que o Congresso americano pode revogar as tarifas, mas o presidente pode vetar a revogação”.

Retração econômica

A decisão, caso não seja revista pelo mandatário norte-americano, pode impactar na saúde econômica de ambos países. Desemprego, retração econômica, impacto no PIB brasileiro não são descartados.

Vale lembrar que entre 2001 a 2004, a participação norte-americana nas exportações brasileiras saiu de 24,4% para os atuais 12,2%.

Para o especialista, o tarifaço “será um grande problema para diversas áreas de nossa cadeia produtiva e em diversos setores”, observa. Ele aponta os setores que mais sofrerão são a indústria de transformação como Embraer, Weg, Gerdau, CSN que encontram nos Estados Unidos forte parceiro comercial.

“No caso da Embraer, mais de 60% das aeronaves que produz tem os Estados Unidos como destino. O mesmo ocorre com as commodities como café, carne bovina e suco de laranja. Obviamente isto impactaria no nível de emprego interno e no longo prazo no crescimento do PIB. Deve-se considerar que os Estados Unidos são o segundo destino de todas as exportações brasileiras”, avalia.

Razões políticas

Para José Carlos de Souza Filho, a declaração de Trump sobre o caso do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, envolvendo os atos do 8 de janeiro cria uma situação emblemática: decisões de caráter econômico sendo moldadas por questões pautadas por vieses políticos, interferindo diretamente em decisões que afetam a soberania nacional. “O próprio jornal americano, The Washington Post, considerou que as medidas tomadas contra o Brasil não foram as mesmas em outras autocracias no mundo em países aliados. Não existe uma razão de caráter econômico que justifique a decisão, pois o superávit americano em relação ao Brasil na balança comercial é de US$400 bilhões nos últimos 15 anos”, considera.

Sobre o cancelamento dos vistos dos ministros do STF, o especialista da FIA entende que a atitude do governo dos EUA é uma espécie de “humilhação pública”. 

“Neste caso estamos diante de questões delicadas. A interpretação por parte do governo americano de que o STF é um órgão que censura e persegue politicamente seus opositores, visão totalmente oposta do governo brasileiro, que considera o STF um defensor da democracia”, diz.

José Carlos de Souza Filho avalia o impacto da situação para o governo Lula. As medidas favorecem o presidente brasileiro e pode unir as pessoas com sentimento de defesa da soberania nacional. “Estão em jogo duas visões que se contrapõem: os Estados Unidos valorizando alianças ideológicas utilizando ferramentas econômicas e diplomáticas e do outro lado o Brasil valorizando a autonomia do judiciário como forma de garantir a democracia. Mas uma coisa é fato: é a primeira vez que o país se vê diante de uma situação tão peculiar”.

Já o entendimento de como o ex-presidente Jair Bolsonaro sai da história é outra. “O lobby bolsonarista, aliado às atuais manifestações que não estão mais produzindo os mesmos efeitos do passado, tem seus impactos. Do ponto de vista judicial é mais argumentos em favor de um possível golpismo. No cenário eleitoral, pode fortalecer candidatos da direita que não possuem restrições eleitorais, além de criar uma ideia de associação com um governo americano que tem sido alvo de muitas críticas no resto do mundo por conta de alguma de suas posturas”, finaliza.

Foto Divulgação

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