Para onde vai nossa petroquímica?

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Adary Oliveira, ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, engenheiro químico e professor (Dr.)


A pouco mais de um mês da realização da Bahia Oil e Gas Energy, evento que ocupará as duas asas do Centro de Convenções de Salvador a partir de 24/05, vale a pena chamar atenção para a situação em que se encontra a indústria química nacional e refletir sobre a grande indagação do momento: para onde vai a nossa petroquímica?

Segundo informações da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) a situação do setor químico nacional é extremamente grave e requer, com máxima urgência, o apoio do Governo Federal para a implementação de medidas emergenciais e estruturais.

Em 2023 houve uma queda acentuada da produção e vendas quando foram atingidos os níveis mais baixos dos últimos 17 anos. A utilização da capacidade instalada não atingiu 70% para todos os grupos de produtos químicos, o que é insuportável para uma indústria intensiva em capital como é o caso da indústria química e petroquímica.

Houve uma diminuição da demanda interna de produtos químicos de uso industrial no primeiro quadrimestre de 2023. A produção registrou uma queda de 13,13% e as vendas internas dos produtos fabricados no país recuaram 8,85%. Por outro lado, as importações desses mesmos produtos aumentaram 10,1%, conquistando uma maior fatia do mercado doméstico, correspondendo a 42% do total, em comparação aos 37% nos primeiros quatro meses de 2022.

Chama atenção as importações de intermediários para fertilizantes, petroquímicos básicos, plastificantes, resinas termofixas e resinas termoplásticas.

Segundo o economista Paulo Gala (Economia & Finanças) as indústrias chinesas e americanas são as que mais agridem a indústria química nacional. Além de terem aumentado a capacidade de produção, o que reduz significativamente os custos industriais, se beneficiaram da redução dos custos das matérias-primas.

Os USA passaram a explorar o shale gas com preço inferior a US$ 2,0/ MMBTU além dos subsídios no valor estimado em US$ 400 bilhões concedidos através do Inflation Reduction Act. A China aproveita o gás natural russo, transportado através de moderno gasoduto de mais de três mil quilômetros de extensão, mais barato devido às sanções comerciais.

No Basil, onde os organismos ambientais proibiram a exploração do shale gas, a indústria química está pagando o preço de US$ 12,0/MMBTU para o gás natural, fora o extorsivo custo do transporte do gás, o mais caro do mundo. Enquanto no Brasil não se crava uma estaca na construção de uma nova fábrica de porte, na China se construiu nos últimos cinco anos o mesmo tanto de fábricas petroquímicas existentes na Europa, no Japão e na Coreia do Sul somados.

Publicações em revistas especializadas dão conta de grandes transformações que estão acontecendo no mundo petroquímico. A segunda geração petroquímica é responsável pelo abastecimento de muitas indústrias a jusante, fornecendo meterias primas para a manufatura de têxteis, elastômeros, plásticos, tintas, vernizes, tensoativos e fertilizantes. A construção de novas unidades fabris do setor petroquímico na China está fazendo crescer a procura de petróleo e gás natural para o país, à medida que aumenta o consumo de plásticos, fibras têxteis, pneus, materiais de construção, gerando uma concorrência cada vez mais incitada entre os tradicionais mandantes do mercado mundial.

O mundo está assustado com a velocidade de expansão do setor petroquímico chinês e com a dimensão enorme de suas fábricas, superando qualquer precedente histórico. Quando a indústria petroquímica foi instalada no Brasil, predominantemente a partir dos anos 1980, se ateve a uma escala pequena que deveria atender à demanda doméstica. Com a abertura do mercado brasileiro ficou claro que a dimensão das fábricas era um fator importante para a competição internacional.

Agora que temos conhecimento mais amplo das técnicas de produção, foram constituídos grupos empresariais que atuam com firmeza no setor, precisamos fortalecê-la ampliando as fábricas, desenvolvendo tecnologias próprias, inventando novas moléculas e, sobretudo, encontrando um jeito de produzir as matérias primas, petróleo e gás natural, com preço que torne o setor mais atrativo para novos investidores.


Um país com mais de 200 milhões de habitantes não pode viver importando matérias-primas para sua indústria química e petroquímica por falta de uma política industrial que assegure a competitividade dos produtos manufaturados em suas fábricas. O nosso negócio não pode se resumir ao agronegócio e à exploração mineral. Não podemos ficar eternamente submissos àqueles que dominam o mundo com uso de novas tecnologias.

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