Em 2023 havia 1,5 milhão de empresas comerciais no Brasil, responsáveis pela ocupação de 10,5 milhões de pessoas e abrangendo 1,7 milhão de unidades locais. Comparada a 2022, a ocupação teve alta de 2,6% (mais 267,8 mil pessoas), terceiro ano seguido de crescimento. Frente a 2014, no entanto, ocorreu queda de 0,8% (menos 88,0 mil) e, em relação a 2019, pré-pandemia, houve expansão de 3,5% (mais 360,3 mil). O contingente de trabalhadores em 2023 recebeu R$ 352,7 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações. Já a receita operacional líquida gerada pelas empresas comerciais totalizou R$ 7,1 trilhões. Os dados são da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), divulgada hoje (7) pelo IBGE.
O setor varejista respondeu pela maior proporção de empregos do comércio, com 7,7 milhões de trabalhadores, equivalente a 72,7% do total. Entre as atividades do varejo com alta na ocupação entre 2014 e 2023, destaque para hiper e supermercados, que teve a maior proporção de pessoas ocupadas (15,1%), e aumentou a quantidade de trabalhadores em 30,6% (mais 372,3 mil pessoas). Outro destaque do setor varejista é o comércio de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos, com alta de 21,3%, o que corresponde a mais 162,2 mil pessoas ocupadas nesse período de 10 anos.
Segundo o gerente de análise estrutural do IBGE, Marcelo Miranda, o perfil do negócio explica o aumento na ocupação da atividade de hiper e supermercados. “Hiper e supermercados demandam uma grande força de trabalho para atender às diversas necessidades de operação, como escala de produtos, logística e distribuição, até o atendimento ao cliente”, diz ele.
Além das altas mais intensas, o setor varejista teve as quedas mais expressivas na ocupação entre 2014 e 2023. Venda de tecidos, vestuário, calçados e armarinho reduziu em 332,9 mil pessoas (-24,6%), enquanto atividades de informática, comunicação e artigos de uso doméstico perdeu 136,5 mil trabalhadores (-13,1%), e produtos alimentícios, bebidas e fumo teve menos 118,9 mil pessoas (-9,4%).
O comércio atacadista empregou dois milhões de pessoas, a maior quantidade desde 2007, representando 18,7% do total. Nos últimos 10 anos, a atividade com maior alta na ocupação foi a de produtos alimentícios, bebidas e fumo, que empregou mais 39,3 mil pessoas (9,2%), o que contribuiu para o recorde na ocupação no setor atacadista, de acordo com Miranda.
Já o setor de venda de veículos, peças e motocicletas ocupou 902,9 mil trabalhadores em 2023, equivalente a 8,6% do total de ocupados.
Comércio pagava em média dois salários mínimos, repetindo o maior valor da série histórica
Empresas comerciais pagaram uma média de dois salários mínimos (s.m.) em 2023, repetindo o resultado de 2022, que foi o maior valor desde 2007. O setor de atacado liderou com o maior salário médio (2,9 s.m.), seguido pelo comércio de motocicletas, peças e veículos (2,1 s.m.) e pelo comércio varejista (1,7 s.m.). Na comparação com 2014, apenas comércio de veículos, peças e motocicletas teve queda (-0,3 s.m), enquanto os outros dois setores mantiveram o valor médio.
Apesar de o comércio varejista ocupar mais pessoas, os maiores salários em média eram pagos no atacado. Nesse setor, destaque para venda de combustíveis e lubrificantes (4,6 s.m.), que apresentou a maior queda nos últimos 10 anos (-1,7 s.m.); máquinas, aparelhos e equipamentos, inclusive TI e comunicação (4,3 s.m.); e produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos, ortopédicos, material de escritório, papelaria e artigos de uso doméstico (4,0 s.m.), cujo salário médio foi o que mais aumentou no período (+0,4 s.m). Já os menores salários ficaram com as atividades de representantes e agentes do comércio do setor atacadista (1,2 s.m.), e de comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,3 s.m.) e varejista de tecidos, vestuário, calçados e armarinho (1,6 s.m.).
Enquanto o salário médio nacional foi de 2,0 s.m. em 2023, no Sudeste o valor foi maior (2,1 s.m.), enquanto no Sul a remuneração (2,0 s.m.) foi idêntica à média nacional. Já as regiões Centro-Oeste (1,9 s.m.), Norte (1,7 s.m.) e Nordeste (1,5 s.m.) ofereciam salários abaixo da média. Nos últimos 10 anos, empresas comerciais no Sul e Centro-Oeste aumentaram o salário médio em 0,1 s.m., enquanto no Norte a redução foi de 0,1 s.m.
Liderada pelo comércio por atacado, receita líquida do setor comercial foi de R$ 7,1 trilhões em 2023
As empresas comerciais do país registraram, em 2023, uma receita bruta de R$ 7,7 trilhões. Desse montante, R$ 685,6 bilhões foram provenientes do comércio de veículos, peças e motocicletas, R$ 3,8 trilhões do comércio por atacado, e R$ 3,2 trilhões do comércio varejista. Descontados os impostos sobre vendas, vendas canceladas, descontos incondicionais, abatimentos e outras contribuições, a receita operacional líquida do setor foi de R$ 7,1 trilhões. Vale lembrar que os valores monetários mencionados na pesquisa correspondem a preços correntes de 2023.
O comércio por atacado (49,7%) foi o que mais contribuiu com geração de receita líquida, seguido pelo comércio varejista (41,2%) e pelo comércio de veículos, peças e motocicletas (9,1%). De 2014 a 2023, o varejo apresentou a maior redução de representatividade, com perda de 3,4 pontos percentuais (p.p.). Por outro lado, o resultado positivo do setor em 2023 encerrou uma sequência de cinco anos seguidos com perda de participação. O comércio de veículos, peças e motocicletas perdeu 2,6 p.p., enquanto o comércio por atacado avançou 5,9 p.p. em 10 anos.
Três dos 22 segmentos do setor comercial geraram a maior parte da receita operacional líquida em 2023: comércio por atacado de combustíveis e lubrificantes (11,8%), que cresceu 1,3 p.p. nos últimos 10 anos e foi a atividade mais representativa no ano; hipermercados e supermercados (11,6%), que figurou na primeira posição do ranking de participação em 2014 e na segunda em 2023; e comércio por atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo (8,5%), que foi a quarta atividade mais relevante em 2014 e a terceira em 2023.
O agrupamento que mais cresceu em termos de participação de receita, entre 2014 e 2023, foi o comércio por atacado de matérias-primas agrícolas e animais vivos (3,2 p.p.), subindo nove posições no ranking de representatividade ao passar do 15º para o 6º lugar da lista. No sentido oposto, o comércio de veículos automotores (-2,2 p.p.) foi a atividade que mais perdeu participação em 10 anos, caindo da terceira para a sétima posição. Já na comparação com o período pré-pandemia, hipermercados e supermercados se destacou por ter sido o segmento com a maior perda em participação de receita operacional líquida (-1,3 p.p.).
Taxas de margem de comercialização e de concentração de mercado diminuíram em 10 anos
A margem de comercialização, que representa a diferença entre a receita líquida de revenda (maior parcela da receita operacional líquida proveniente da venda de mercadorias) e o custo das mercadorias vendidas, totalizou R$ 1,6 trilhão em 2023. A maior parte desse valor veio do comércio varejista (52,4%), seguido pelo comércio por atacado (40,0%) e pelo comércio de veículos, peças e motocicletas (7,6%).
Nos últimos 10 anos, a taxa de margem de comercialização, que mede a capacidade de um determinado setor em aumentar sua receita de vendas acima dos custos de aquisição e da variação do estoque, caiu de 30,6% para 29,0%. No mesmo período, as margens do comércio varejista (de 39,4% para 39,1%) e do comércio por atacado (de 25,1% para 22,5%) recuaram. Já o comércio de veículos, peças e motocicletas seguiu direção oposta, saindo de 20,3% para 23,4% de taxa de margem de comercialização.
Dos 22 agrupamentos de atividades que compõem o setor de comércio, as maiores taxas de margem de comercialização encontravam-se no comércio varejista. O comércio varejista de artigos culturais, recreativos e esportivos cresceu 23,6 p.p., maior incremento desde 2014 dentre todas as atividades, com taxa de margem de 84,9% em 2023. Em seguida, apareceu o comércio varejista de tecidos, vestuário, calçados e armarinho (83,0%), cujo aumento da taxa foi de 1,7 p.p., enquanto a terceira posição neste ranking ficou com o comércio varejista de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos (62,8%), que expandiu sua taxa de margem em 4,6 p.p.
Em contraste, as três menores taxas de margem de comercialização foram das seguintes atividades: comércio por atacado de combustíveis e lubrificantes, com taxa de 6,5% (perda de 1,4 p.p. entre 2014 e 2023); comércio por atacado de matérias-primas agrícolas e animais vivos, com 11,9% de taxa (perda de 3,0 p.p.); e comércio de veículos automotores, com 14,3% (ganho de 2,1 p.p.). Já a maior perda da taxa de margem ficou com o comércio por atacado de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos, ortopédicos, material de escritório, papelaria e artigos de uso doméstico, que passou de 57,6% para 50,4% em 10 anos.
Quanto à concentração de mercado, medida pelo indicador R8 (quanto maior o R8, maior é a concentração no setor, segmento ou agrupamento de atividades), a pesquisa mostrou que houve redução em seu valor. As oito maiores empresas do setor comercial passaram de 10,2% de representatividade em 2014 para 9,3% em 2023.
No comércio varejista o R8 foi de 10,0% em 2023, aumento de 1,3 p.p. no intervalo de 10 anos. Embora o setor, em geral, apresente baixa concentração, o comércio varejista de informática, comunicação e artigos de uso doméstico se destacou entre as três maiores do comércio, com um indicador de 41,2%.
O comércio por atacado (16,0%), ao contrário, teve queda de 4,6 p.p. no seu R8 em 2023, comparado a 2014. Duas das três atividades de maior valor do indicador, dentre as 22 analisadas, eram do segmento de atacado: comércio atacadista de combustíveis e lubrificantes, com o maior R8 (56,6%); e comércio por atacado de mercadorias em geral, com R8 de 34,0%. Vale ressaltar, porém, que o comércio atacadista de combustíveis e lubrificantes apresentou queda de 17,7 p.p., maior diminuição em relação a 2014.
Sudeste perde participação no comércio em 10 anos, mas segue com maior receita bruta
O Sudeste foi responsável por 48,9% da receita bruta de revenda em 2023, mas essa participação diminuiu frente a 2014, quando detinha 51,6%. Essa perda na participação foi absorvida principalmente pelas regiões Sul, que passou de 19,7% para 20,9%, e Centro-Oeste, que cresceu de 9,7% para 11,4%, nesses últimos 10 anos.
O setor comercial no Sudeste empregava um total de 5,2 milhões de pessoas em 2013, uma queda de 4,1% frente a 2014, o que representa menos 223,4 mil pessoas ocupadas. O Nordeste tinha 1,9 milhão de trabalhadores ocupados, mas também enfrentou queda na ocupação, com a saída de cinco mil profissionais. Já o Centro-Oeste terminou 2023 com 947,5 mil profissionais no comércio, e foi a região com maior alta em termos absolutos, 6,5%, ou mais 57,5 mil pessoas ocupadas. A Região Norte tinha 378,9 mil trabalhadores no comércio, após aumento de 13,4% ou 44,9 mil empregados entre 2014 e 2023. O Sul ganhou 38,0 mil pessoas (aumento de 1,8%) no mesmo período, chegando a 2,1 milhões de pessoas empregadas no comércio formal.
O comércio por atacado predominou em 13 unidades da federação, incluindo as três da Região Sul, enquanto nas outras 14 o comércio varejista teve mais peso em 2023. Nos últimos 10 anos, o Amazonas passou a ter comércio varejista como o de maior relevância em termos de receita, enquanto Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul tiveram um movimento inverso.
Informação: IBGE
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