*Adary Oliveira
O autor francês Júlio Verne ficou conhecido por ter escrito mais de 100 romances de aventura e ficção científica em muito dos quais antecipando invenções e descobertas do século XX. São famosos os livros Viagem ao centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), a volta ao mundo em 80 dias (1872). Contudo, a obra que mais chamou a atenção no meu tempo de juventude, por ter sido levada ao cinema, foi Vinte mil léguas submarinas (1870) em que o misterioso Capitão Nemo e seu submarino Nautilus enfrenta perigos na exploração dos oceanos.
A exploração econômica do mar sempre fascinou a humanidade não só na atividade pesqueira, mas também através da navegação de conquista de novos continentes, transporte de passageiros e de mercadorias, exploração de petróleo e outros minerais e cenário de batalhas navais.
No Brasil a importância é enorme por possuir 7.367 km de litoral, que pode chegar a 9.200 se foram consideradas as saliências e reentrâncias. Na Bahia, seu litoral é de mais de 1.100 km, o maior do Brasil. Um dos minerais mais encontrados é derivado de conchas e moluscos marinhos e ainda hoje encontramos caieiras antigas feitas de pedra na Ilha de Itaparica e nos municípios de Candeias, Itacaré, Maraú, Camamu e Valença. Na Baía de Todos os Santos a abundância do calcáreo marinho chegou a atrair duas fábricas de cimento, uma do grupo norte-americano Lone Star Corporation e outra do grupo brasileiro Votorantim.
O cimento fabricado era de excelente qualidade, usado na fabricação de concreto de alta resistência à compressão. Contudo, o processo via úmida adotado consumia alto volume de combustível, e a elevação do preço do óleo e do gás inviabilizou as duas fábricas.
Com o propósito de explorar as riquezas do mar a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) está instalando no Porto de Salvador o Senai Cimatec Mar, objetivando pesquisar e desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis ligadas ao crescimento da indústria, dentro da imensidão da Amazônia Azul.
O novo laboratório de PD&I está sendo estruturado para desenvolver atividades com ênfase em seis eixos temáticos: Sustentabilidade, Engenharia Submarina, Tecnologia de Portos, Defesa & Segurança, Energias Oceânicas e Engenharia Náutica e Naval. Vale mencionar que nesses campos do conhecimento sobressaem a indústria do petróleo e gás natural offshore, desafiadora pelos seus custos elevados no tocante à operação, sustentabilidade ambiental e descarbonização dos sistemas de produção em alto mar, e as tecnologias de automação, robótica submarina, inteligência artificial, novos materiais e supercomputação.
Mais que importante é a formação de cientistas dedicados à exploração do mar.
O novo “campus” desse importante Centro Universitário será formado por duas unidades. A primeira, designada de Centro de Controle de Operações, abrigará os protótipos para testes e embarcarão os equipamentos e robôs. A segunda, denominada Estação Científica, será instalada em área afastada da costa marítima, fora das rotas de navegação e em local que não interfira nas atividades pesqueiras. Inicialmente deverão ser levantadas informações do ambiente e as demandas de desenvolvimento de ciência e tecnologia para aproveitamento nos seis eixos temáticos citados.
Depois as atenções estarão voltadas para o dimensionamento de infraestrutura requerida para operação do novo site.
Os desafios que se colocam à frente do Cimatec Mar são imensos e mesmo inimagináveis. Sabemos que cerca de 70% da superfície da Terra é formada pelos oceanos. A profundidade média é de aproximadamente 3.700 metros e o ponto mais profundo chega perto dos 11.000 metros. Além do mais a humanidade tem mais conhecimentos acumulados do espaço sideral do que dos oceanos.
Ambos reúnem nos dias de hoje os maiores mistérios da ciência. No caso do mar, além de sua vastidão e de sua profundidade, torna difícil a vida sem proteção especial. A pressão do fundo do mar é tão elevada que pode esmagar uma pessoa em segundos, como aconteceu recentemente com os tripulantes do submarino Titan que visitava os destroços do Titanic.
Ao escrever este artigo lembrei-me do meu tempo de cadete da aeronáutica, quando estudava no lendário Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, que trazia a seguinte inscrição no seu emblema: “MACTE ANIMO! GENEROSE PUER, SIC ITUR AD ASTRA” que com tradução livre significa “coragem jovem! É assim que se sobe aos céus”. O fascínio da economia do mar merece tal recomendação aos desbravadores do Senai Cimatec.
*Adary Oliveira – engenheiro químico, ex-presidente da Associação Comercial da Bahia
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