Mercado se manifesta após anúncio de desaceleração da inflação

Você está visualizando atualmente Mercado se manifesta após anúncio de desaceleração da inflação

Após a divulgação da desaceleração da inflação pelo IBGE a partir da divulgação do IPCA-15, especialistas do mercado se manifestaram sobre o cenário econômico. Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS – Associação Paulista de Supermercados, considera que o resultado do IPCA 15 aponta para uma desaceleração na inflação. “Tanto no comparativo com o mês anterior como em relação ao mesmo período do ano anterior, o resultado de outubro é bastante positivo e aponta para uma convergência rumo ao centro da meta de inflação. No acumulado em 12 meses, é a primeira vez nesse ano que a inflação está abaixo da casa dos 5% e a nossa expectativa é que encerre o ano um pouco acima do limite de 4,5%. Entre os itens que contribuíram com a alta, nós temos as passagens aéreas, os combustíveis e a energia elétrica”, sinaliza.

Ele faz uma analise sobre o peso da alimentação em domicílio como item que tem contribuído muito para esse processo de desaceleração da inflação. “Tendo em vista a importância que a alimentação possui no orçamento familiar, especialmente das famílias de menor renda, o resultado de outubro é bastante animador por conta da queda de produtos essenciais como o arroz, o leite, os ovos e a cebola. São itens fundamentais na alimentação e na culinária brasileira. O arroz, por exemplo, caiu 1,37%; os ovos caíram 3%. Isso indica que está mais barato encher o carrinho do supermercado”.

Ele também observa que, a médio e longo prazo, abre-se um espaço para a redução da taxa básica de juros. “Ontem mesmo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, havia anunciado que a autoridade monetária, o Comitê de Política Monetária, muito provavelmente não iniciaria o ciclo de redução porque ele se diz muito preocupado. Mas hoje, o que nós estamos observando é que temos uma taxa de juros na casa de 15% enquanto a inflação mês após mês tem apresentado reduções e desaceleração significativa. O que nós temos hoje com essa taxa de juros é um forte freio de mão na economia, aumento do custo do crédito, o retardamento dos investimentos e uma forte desaceleração. Os dados de inflação corroboram o entendimento de que o Banco Central já poderia sim reduzir a sua taxa de juros sem prejudicar o controle inflacionário e sem prejudicar também a atividade da economia brasileira”, menciona e acrescenta:

“A expectativa é de que a inflação mantenha a mesma tendência nos próximos meses, motivada por alguns fatores. Primeiro, nós temos uma safra recorde de grãos, o que deve contribuir com a queda de itens básicos da cesta dos consumidores. Segundo ponto, a nossa taxa de câmbio. Durante o último bimestre do ano de 2024, nós tivemos uma forte alta na taxa de câmbio, que bateu na casa de R$ 6,50. O cenário é bastante diferente no final deste ano e isso deve contribuir sim para o controle inflacionário. Acreditamos que o final de ano tende a ser muito melhor para os consumidores, tendo em vista que o poder de compra não será tão afetado como no último ano”.

Finanças

Para Pablo Spyer, conselheiro da ANCORD – Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias, a prévia da inflação de outubro confirmou o movimento de desaceleração esperado pelo mercado, com o resultado abaixo do previsto, sendo também o mais baixo para o mês desde 2022, refletindo um alívio importante nos preços de energia elétrica, com a mudança da bandeira tarifária e o fim do bônus de Itaipu. “A inflação segue em trajetória de moderação, mas a composição dos preços ainda preocupa, especialmente pela pressão dos serviços subjacentes e dos itens intensivos em mão de obra. Isso reforça a leitura de que o combate à inflação deve continuar de forma prudente, sem relaxar prematuramente as condições monetárias. O ambiente macroeconômico segue desafiador, mas o dado de hoje reforça a tendência de desaceleração gradual da inflação. Para os investidores, o quadro aponta para um cenário de juros altos por mais tempo, até que a desinflação se consolide de maneira sustentável”.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, considera que, em 12 meses, o índice está em 4,94%, também abaixo do esperado e chama atenção para uma boa notícia : a deflação de bens industriais. “Conversa, inclusive, com a forte deflação na China, algo que começa a ficar preocupante em termos de deflação de preços de bens para o consumidor e atacado. A gente viu na segunda-feira esse dado. Mas, o IPCA, para o Brasil, foi uma boa notícia. A gente pega essa deflação de 0,04% dos bens industriais, a média dos núcleos também em 0,22%, um pouquinho acima do 0,19% de setembro, mas ok, a difusão caiu, para 50,95% de 53% em setembro. Acho que, no conjunto, é uma boa notícia. A maioria dos grupos sem grandes altas. Resumindo, a gente tem difusão em queda, média de núcleos boa, índice cheio também bom, deflação de preços industriais, ainda alguma pressão de serviços, alimentos também cedendo. Acho que a gente está caminhando para um final de ano bom de inflação. Lembrar que esse final de ano costuma ser mais complicado: novembro e dezembro, para o IPCA, em geral, vem mais salgado. Acho que a gente teve uma boa notícia”.

A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, considera que o IPCA-15 de outubro subiu 0,18%, abaixo das expectativas do mercado (0,25% na SAMI e 0,21% na Bloomberg). “O número foi qualitativamente positivo, com serviços subjacentes e intensivos em mão de obra abaixo do esperado e bens industriais também melhores. Ainda assim, a leitura dos serviços foi mista, refletindo aceleração em itens como aluguel e empregada doméstica — este último acende um alerta, dado o avanço dos rendimentos dessa categoria na PNAD, que pode gerar pressões inflacionárias adiante. No conjunto, o resultado apoia a continuidade das revisões baixistas nas expectativas de inflação, mas não altera o panorama geral nem traz confiança adicional no processo de desinflação. Nesse sentido, não deve mudar o plano de voo do Banco Central, que segue com postura cautelosa e juros em patamar contracionista por tempo prolongado”.

Foto Freepik

Compartilhe:

Deixe um comentário