Alessandra Nascimento -Editora-chefe
Há dois dias da implementação da nova tarifa de importação de produtos brasileiros para os EUA, o chamado tarifaço que subiu para 50%, o setor produtivo baiano diretamente impactado pelas medidas do governo norte-americano se reuniu na manhã desta segunda-feira (4), com o governador Jerônimo Rodrigues, na Federação das Indústrias do Estado da Bahia, FIEB, para discutir medidas para mitigar os impactos do tarifaço na economia baiana. Estiveram presentes o presidente da Fieb, Carlos Passos e, via teleconferência, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckimin.
Jerônimo disse que a intenção com a reunião era promover a articulação com o setor e além da FIEB, procurou envolver outros segmentos produtivos. “Existem segmentos produtivos baianos que não foram contemplados com a revisão do tarifaço. Tem o setor de pneus que precisamos encontrar uma saída, o de minérios, o setor de frutas que está sendo muito castigado. A produção de manga, uva, goiaba e cacau são alguns exemplos. Queremos, com esse movimento do setor produtivo, fortalecer a palavra e a voz da Bahia. O ministro Geraldo Alckmin participou de forma virtual. É ele quem coordena a relação diplomática e comercial com os EUA. Foi apresentado a ele o resultado do grupo de trabalho, criado há 15 dias para avaliar os impactos em nossa economia e, também, levamos as demandas do setor produtivo baiano para o governo federal”, revelou.
O governador avisou que amanhã e quarta-feira estará participando de reuniões em Brasilia, junto aos governadores do Nordeste. “Participaremos das reuniões do Conselho Econômico e Social onde levaremos a palavra do Nordeste. Cada estado mostrará sua demanda. No dia seguinte teremos agendas individuais com o presidente Lula e o ministro Geraldo Alckmin. Nosso interesse é tirar todos os produtos do tarifaço e aqueles que não conseguirmos, pelo menos tentar discutir a redução da alíquota com os norte-americanos. Que ela não seja 50%, mas aqueles setores que por acaso ficarem sem redução, vamos precisar averiguar quais ações deveremos tomar a exemplo de incentivos, linha de crédito, redução de alíquotas”, explicou.
Grupo de Trabalho Permanente
O governador da Bahia anunciou que o grupo de trabalho, criado emergencialmente para discutir os impactos do tarifaço, se tornará permanente e que no dia 18 deste mês será inaugurada uma unidade da Apex no Estado com objetivo de trabalhar a inteligência comercial e avaliar potenciais produtos que podem ser exportados para outros mercados.
União
O governador também comentou sobre a manifestação da direita neste domingo, que levou milhares de pessoas ás ruas das principais capitais do país inclusive em Salvador. “Estamos num momento que precisamos de união para resolver essa questão do tarifaço com os EUA. Queremos articular ações para manter as empresas e os empregos”, disse.
Impacto do Tarifaço
Apesar de excluir 700 produtos como exceção à nova aliquota de 50%, muitos produtos vão sofrer com o impacto do tarifaço a partir desta quarta-feira, 6, perdendo competitividade e afetando drasticamente a economia brasileira e também a norte-americana e gerando desempregos. Os porta-vozes dos setores afetados se manifestaram na imprensa nas últimas semanas apresentando as perdas.
- Carnes: A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) calcula perdas para o Brasil da ordem de US$1 bilhão com o aumento da tarifa.
- Café: A Abic revelou em entrevistas recentes que o café brasileiro é produto de grande relevância na economia norte-americana, ocupando 34% do mercado naquele país, porém o setor fala em “redirecionamento” da produção para outros mercado. Na semana passada a China anunciou a habilitação de 183 empresas brasileiras para a exportação de café para aquele país.
- Frutas: A Abrafrutas apontou que o setor vai sofrer “graves impactos” causados pelo tarifaço nas exportações, especialmente as culturas de manga, uva e frutas processadas, a exemplo do açaí, que são 90% do total exportado para o mercado norte-americano.
- Máquinas e equipamentos: A Abima revelou que o setor está “muito preocupado” com o tarifaço e que o mercado norte-americano representa entre 8% e 10% de vendas.
- Móveis: A Abimóvel considera que a nova tarifa gera “aumento expressivo no custo final”, inviabilizando o comércio bilateral com perda de nove mil postos de trabalho em todo Brasil.
- Têxteis: A Abit considera que a nova tarifa vai gerar impactos severos na economia nacional e no setor produtivo.
- Calçados: A Abicalçados considera que a tarifa vai gerar “danos irreversíveis nas exportações” e atingir “milhares de empregos”.
- Pescados: A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), estima um impacto “severo, com repercussões sociais e econômicas profundas”, afetando diretamente as regiões em que a atividade pesqueira é a principal fonte de emprego e renda.
- Ferro e aço: O Instituto Aço Brasil considera que a sobretaxa agrava o cenário global do setor e que as tarifas são prejudiciais tanto para exportadores brasileiros quanto para setores industriais norte-americanos.
- Plásticos e derivados: A Abiplast considera a tarifa de 50% inviável as exportações aos EUA e ela vai afetar o faturamento, a rentabilidade e os empregos das empresas.
- Químicos: A Abiquim avalia que o setor será fortemente atingido, e irá comprometer as cadeias produtivas, empregos e investimentos tanto no Brasil quanto nos EUA.
- Tabaco: O SindiTabaco avalia que o aumento da tarifa compromete a competitividade do tabaco brasileiro no mercado norte-americano, que é o terceiro maior destino das exportações brasileiras.
- Pneus: A Anip revelou que as vendas no mercado norte-americano ultrapassaram 3,2 milhões unidades em 2024 e as tarifas vão afetar a indústria, em especial aquelas que investiram na linha de produção com exclusividade para os EUA.
Foto: Site Café com Informação