Em 2023, 89,1% (8.758) das 9.827 empresas industriais com 100 ou mais pessoas ocupadas realizaram pelo menos uma iniciativa ou prática ambiental, sendo as relacionadas a resíduos sólidos a mais declarada (79,6%). Os demais temas das iniciativas e práticas ambientais investigadas foram: reciclagem e reuso (75,1%), eficiência energética (61,5%), recursos hídricos (57,1%), emissões atmosféricas (46,3%) e uso do solo (23,9%).
Os dados inéditos são do módulo temático de Práticas Ambientais e Biotecnologia da Pesquisa de Inovação Semestral (PINTEC 2023), que investiga, também, políticas públicas relacionadas ao tema. A pesquisa experimental é realizada em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa será divulgada, nesta quarta-feira, às 10 horas, na Casa Brasil-IBGE, no Rio de Janeiro (RJ). O evento também será transmitido pelas redes sociais oficiais do Instituto (Youtube, Instagram, Facebook e Tiktok).
“A pesquisa foi a campo no primeiro semestre de 2024 para colher dados de 2023 sobre o tema de iniciativas e práticas ambientais, com o objetivo de traçar um panorama da adoção de práticas ambientais relacionadas aos processos produtivos de empresas industriais que visam a diminuir o impacto negativo ao meio ambiente. Não é uma pesquisa sobre sustentabilidade, conceito mais amplo que abrange também os aspectos sociais, econômicos e institucionais”, explica o gerente de pesquisas temáticas, Flávio José Marques Peixoto, que lembra, ainda, que em 2017, a PINTEC trienal fez um módulo de inovação ambiental.
Do total de 8.758 empresas industriais que utilizaram pelo menos uma das iniciativas investigadas, a maioria (mais de 60%) utilizou pelo menos quatro temas investigados e 18,0% implementaram todos os seis temas. Apenas 9,7% adotaram apenas um tema, a maior parte empresas de menor porte.
Regulação dá resultados
Das empresas com iniciativas/práticas ambientais, 53,0% foram influenciadas pela regulamentação, especialmente nos temas de resíduos sólidos, recursos hídricos, emissões atmosféricas e uso do solo.
Apenas 1.984 empresas (22,7%) dentre as 8.758 com iniciativa ou práticas ambientais, foram influenciadas por políticas públicas de incentivo.
“Os instrumentos de financiamento público voltados para estimular as iniciativas e práticas ambientais relacionadas à eficiência energética foram considerados os relativamente mais adequados em todos os quesitos analisados. Verifica-se amplo espaço para o aumento da influência dos incentivos públicos voltados para as iniciativas e práticas ambientais, uma vez que mais de 80% das empresas não utilizaram e/ou não conhecem os incentivos”, ressalta Peixoto.
Fabricação de bebidas realiza práticas ambientais
Em termos setoriais, as atividades que mais implementaram iniciativas e práticas foram: Fabricação de bebidas, que lidera os rankings de atividades relacionadas a recursos hídricos (93,3%), eficiência energética (87%), reciclagem e reuso (93,4%) e tem a segunda posição em resíduos sólidos (93,4%) atrás apenas de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (94,4%); e Refino e derivados de petróleo, coque e biocombustíveis, destaque em uso do solo (83,5%) e emissões atmosférica (82,7%). Por outro lado, as que menos realizaram práticas ambientais foram: Confecção de artigos do vestuário e acessórios (26,8% em recursos hídricos; 65,3% em resíduos sólidos; 50,8% em reciclagem e reuso; 1,3% em uso do solo e 17,7% em emissões atmosféricas) e Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (28,2% em recursos hídricos; 43,2% em resíduos sólidos; 31,7% em eficiência energética; 41,4% em reciclagem e reuso; 26,3% e emissões atmosféricas).
“Uma atividade como a de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, é natural ser menos ativa nas práticas ambientais, por se uma atividade mais de serviços industriais do que de transformação”, destaca Peixoto.
Em relação a aplicação de recursos, das 9.827 empresas, 73,2% (7.194) realizaram dispêndios em iniciativas e práticas ambientais em 2023. Entre as práticas que receberam recursos, destacam-se resíduos sólidos (56,6%), reciclagem e reuso (51,3%), eficiência energética (44%) e recursos hídricos (40,2%).
Entre as atividades, 13 realizaram dispêndios acima da média da indústria (73,2%), com destaque para Fabricação de bebidas (92,6%), Fabricação de coque e produtos derivados (88,4%), Fabricação de produtos de fumo (87,6%), Fabricação de produtos químicos (86,1%), Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais (85,2%), metalurgia (84,8%), Indústrias extrativas (83,9%) e Preparação de couros e artefatos (80,7%).
Por outro lado, outras 13 atividades investiram abaixa da média. Manutenção, reparação e instalação de máquinas foi que teve o menor percentual (31,1%) de realização de dispêndios.
A maior parte das empresas (88,6%) implementou práticas ambientais para atender a regulação
O atendimento às normas ambientais brasileiras foi o principal fator a influenciar as iniciativas e práticas ambientais, seguido por estratégia autônoma (87,7%) e influência de fornecedores e/ou clientes (63,9%). Atender normas ambientais de mercados externos foi apontado por 44,1% e influência da opinião pública/sociedade civil organizada foi citado por 44,9%.
98,7% das empresas com práticas ambientais tiveram benefícios
Das 8.758 empresas com práticas ambientais, 8.642 (98,7%) reportaram ter tido benefícios com as iniciativas e práticas ambientais. O atendimento às normas legais foi o benefício mais citado (89,5%), seguido por eficiência operacional e redução de custos (84,4%), melhoria na reputação/imagem (78,8%) e relacionamento com o cliente (71,6%).
Entre as 8.758 empresas com iniciativas e práticas ambientais, 7.669 (87,6%) revelaram ter enfrentado dificuldades nos projetos ambientais. Entre os fatores que mais dificultaram a implementação das iniciativas e práticas ambientais estão os altos custos das soluções ambientais, seguido por escassez de oferta de programas de apoio e fomento público e escassez de recursos financeiros das empresas. Os mesmos três fatores também foram apontados pelas empresas que não investem em iniciativas e práticas ambientais.
Entre as empresas que adotaram iniciativas ou práticas ambientais, 93,8% tiveram algum tipo de relação de cooperação, principalmente com clientes/consumidores (63,3%) e fornecedores (61,0%) e com consultores ou empresas de consultoria (59,3%).
Das 1.001 empresas que declararam ter realizado alguma atividade associada ao uso, produção e P&D em biotecnologia, 962 (96,1%) também possuíam iniciativas ou práticas relacionadas aos temas ambientais investigados na pesquisa.
Cresce o número de empresas que publicam relatórios de sustentabilidade
Entre as empresas que mais publicaram relatórios de sustentabilidade, 36,7% pertenceram à indústria de Fabricação de bebidas, enquanto 69,6% das que integraram os critérios ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, conceito que avalia o desempenho de uma empresa em três áreas: meio ambiente, social e governança) às suas estratégias corporativas fazem parte da indústria de Fabricação de produtos químicos. Já as certificadas pela ISO 14001 (norma internacional mais reconhecido para sistemas de gestão ambiental) ou normas correlatas, 61,5% das empresas estiveram presentes na indústria de Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias.
“A adoção de alguma iniciativa e/ou prática ambiental nas empresas industriais é ampla. Setores mais regulados apresentam maior proporção de empresas atuando para diminuir impactos negativos no meio ambiente a partir de seus processos industriais. Vale destacar que, em geral, as práticas são realizadas a partir de um plano estruturado de ação e grande parte das empresas realiza dispêndios nos temas materiais relacionados. Mais de 60% das empresas realizam pelo menos quatro temas materiais simultaneamente. Além disso, o atendimento às normas ambientais brasileiras foram, ao mesmo tempo, principal fator motivador para e principal benefício obtido pela adoção de iniciativas e práticas ambientais nas empresas. Porém, os altos custos e a escassez de apoio público foram as principais dificuldades enfrentadas. Há uma importante influência das regulações existentes, porém baixa influência dos incentivos, sobretudo o financiamento público”, resume Peixoto.
Informações IBGE
Foto: Ari Dias/AEN