Ricardo Martins, presidente da Abimetal-Sicetel
Fortalecer a indústria não é apenas uma estratégia econômica: é uma decisão sobre o futuro do país. Quando deixamos de investir na produção nacional, perdemos mais do que competitividade: comprometemos investimentos ativos, inovação tecnológica, arrecadação e capacidade de sustentar uma economia forte e resiliente.
E nesse momento, a indústria brasileira de processadores do aço atravessa um momento decisivo. Num cenário global de excesso de capacidade e práticas de comércio, países como Estados Unidos, México, Colômbia, Índia e membros da União Europeia adquirem adotando medidas firmes para preservar suas cadeias produtivas e manter a competitividade interna. Em nosso país, no entanto, a ausência de uma ocorrência proporcional expõe o setor a uma concorrência desequilibrada, com impactos diretos no desenvolvimento econômico e sustentável.
O setor do aço está sob pressão, e há motivos claros para que ele exija tanta atenção neste momento. A entrada crescente de produtos importados a preços artificialmente baixos, impulsionados por subsídios em países com excesso de produção, ameaça a operação de centenas de empresas que transformam aço em soluções para setores consideravelmente essenciais. Trata-se de um risco concreto para a indústria nacional, especialmente para pequenas e médias empresas e, por consequência, para a geração de empregos de qualidade e de valor agregado.
O avanço das vendas de produtos do segundo elo da cadeia do aço, o de processamento, ocorre em um contexto especialmente preocupante: entre janeiro e abril deste ano, o Brasil registrou um crescimento de mais de 30% do volume importado, na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo um levantamento da Abimetal-Sicetel, com base em dados oficiais do Comex Stat (ferramenta do governo brasileiro que disponibiliza dados oficiais sobre o comércio exterior do país).
Esse aumento expressivo se dá justamente quando o país conta com capacidade ociosa, qualificação técnica e estrutura produtiva apta a atender grande parte dessa demanda internamente. Grande parte das importações tem origem na China, onde os preços praticados, muitas vezes abaixo do valor de mercado, distorcem a concorrência e colocam em risco a soberania da indústria nacional.
Mas frente a tudo isso: o que foi feito no Brasil e por que ainda é pouco?
Como resposta inicial ao desequilíbrio competitivo, o governo elevado para 25% a alíquota de importação de seis produtos fabricados pelas indústrias representadas pela Abimetal-Sicetel, sendo eles: arames galvanizados, arames de alto carbono, arames de outras ligas, materiais para andaimes, telas soldadas e pregos. Embora represente um passo na direção correta, a medida ainda é insuficiente diante da urgência de garantir previsibilidade e condições equânimes para o setor. Além disso, permanece a incerteza quanto à sua renovação, o que fragiliza a sua efetividade como instrumento de proteção à indústria nacional. Temos muita confiança de que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) trabalhará para que uma alíquota de 25% seja renovada.
Quando falamos sobre a importância do segmento na geração de empregos, é preciso destacar que contamos com cerca de 30 mil postos de trabalho diretos, segundo os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Somos uma cadeira que emprega mão de obra, movimenta economias locais, contribui com a arrecadação de tributos e fortalece o parque industrial brasileiro. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), ainda, os empregos industriais pagam, em média, 10% mais do que os demais setores e concentram 69% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Portanto, proteger os trabalhadores é também defender a capacidade produtiva nacional.
Mais do que preservar, trata-se de fortalecer a indústria brasileira, ou seja, o que é realmente nosso. Nesse sentido, é importante frisar, aqui, que a indústria brasileira do aço não teme a concorrência internacional, mas busca a criação de um ambiente de isonomia competitiva, com regras claras e resultados. Renovar o atual sistema de fortalecimento comercial e avançar em políticas públicas mais recomendações são as duas medidas urgentes que a Abimetal-Sicetel defende para o restabelecimento da competitividade do setor, que tem capacidade instalada, qualidade técnica e compromisso. O que falta, muitas vezes, são as condições adequadas para competir em pé de igualdade.
Esse cenário nos convida à reflexão: quando temos um contexto interno favorável, faz sentido priorizar fornecedores estrangeiros em detrimento de empresas brasileiras que empregam, pagam impostos e investem em inovação no Brasil?
A indústria do aço é parte de um elemento vital para o movimento da economia nacional. Conforme aponta a CNI, cada R$ 1,00 produzido pela indústria de transformação gera R$ 2,43 na economia como um todo — o maior efeito multiplicador entre todos os setores. Portanto, valorizar essa capacidade é fundamental para construirmos um futuro com mais oportunidades. É hora de rever regras, recompensar prioridades e apoiar quem produz aqui, com responsabilidade e compromisso com o país.
Foto: Iano Andrade / CNI