Especialistas avaliam a manutenção da selic em 15%

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Especialistas do mercado financeiro avaliam o posicionamento do Banco Central em manter a Taxa Selic em 15% anunciada pelo Copom.

Para Pablo Spyer, conselheiro da ANCORD, o Banco Central, por meio de sua decisão, reafirma a estratégia de mantê-la em patamar elevado por um período bastante prolongado, suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.

Ele observa que o comunicado trouxe pequenas alterações em relação à reunião anterior: a projeção de inflação para o segundo trimestre de 2027 foi revisada de 3,3% para 3,2%, indicando um cenário levemente mais favorável; e a descrição do mercado de trabalho passou de ‘dinamismo’ para ‘resiliência’, reforçando que a atividade econômica segue firme.

“Apesar dessas mudanças, o tom do comunicado permanece claro: o Copom não abriu espaço para cortes imediatos e mantém postura de cautela diante da incerteza externa e das expectativas de inflação ainda acima da meta. O Comitê segue vigilante, pronto para ajustar a política monetária caso seja necessário, mas não sinalizou qualquer flexibilização neste momento”.

Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS, entende que, apesar de o comunicado da instituição indicar que há uma preocupação sobre a sustentabilidade e a manutenção da taxa de inflação rumo ao centro da meta, o observado é “um descompasso entre a ação do Banco Central e a realidade econômica, seja brasileira ou internacional”.

Para ele, ao passo que o Banco Central norte-americano reduziu a taxa de juros, o Banco Central brasileiro mantive estabilidade na taxa de juros. “Temos hoje a segunda maior taxa real de juros do mundo, prejudicando os investimentos, o consumo das famílias e perpetuando os entraves estruturais ao desenvolvimento. Nesse cenário complexo e conturbado na conjuntura doméstica e internacional, é de fundamental importância que nós tenhamos uma política monetária que fomente a atividade econômica. Uma política monetária excessivamente afeta negativamente, inclusive, a condução política fiscal do país”.

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, elenca mudanças sutis no anúncio do COPOM. “O primeiro ponto a destacar é que o balanço de riscos foi reiterado integralmente, sem qualquer alteração, mantendo a avaliação que sustenta a taxa de juros em 15% ao ano.  No trecho que afirma que o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária, o Comitê passou a avaliar “a estratégia em curso de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado” como “adequada” para garantir a convergência da inflação à meta. A substituição do termo “suficiente” por “adequada” não é trivial: na reunião anterior, o Comitê entendia que 15% era suficiente. Agora, considera que este é o nível que deve ser mantido — o patamar adequado — sem sugerir a necessidade de elevação adicional”  diz e acrescenta: “Outro ponto a ser destacado é a inclusão da expressão “como usual” ao reforçar que o Comitê seguirá vigilante e que os próximos passos da política monetária poderão ser ajustados. A mensagem implícita é clara: caso seja necessário, o Banco Central tomará medidas como sempre fez. Apesar dessas pequenas alterações, o comunicado permanece bastante sucinto e essencialmente alinhado ao da reunião anterior, sem mudanças substantivas”.

Ele também sinaliza que o comunicado não mencionou o ambiente político, apesar da instabilidade observada desde a última sexta-feira. A ausência desse tema é positiva e deve ser interpretada como um bom sinal.

Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o comunicado veio em linha na parte de atividade, reconhecendo a desaceleração — inclusive do PIB — de forma cautelosa. A projeção de inflação em 3,2% mantém vivo o case de janeiro, mas com o atenuante de que o movimento foi puxado por administrados; nos preços livres, a revisão para baixo ficou na segunda casa decimal, sem alterar o arredondamento.

“Houve ajustes marginais na sinalização, com a introdução da noção de “integral” ao falar em “estratégia em curso”, e a troca de “suficiente” por “adequada”, o que sugere maior confiança na estratégia.
A ameaça de alta foi suavizada ao aparecer como “como usual”, mas não foi retirada. No conjunto, o BC fez movimentos sutis. Para o mercado, vale notar que os 3,2% do modelo perdem apelo — e já parecem defasados — diante do câmbio mais elevado”. Ela ainda sinaliza que há projeção de cortes da taxa básica de juros a partir de março, e o comunicado é compatível com essa visão.

Rodrigo Marques, sócio e economista-chefe da Nest Asset Management: “O comunicado do Copom veio exatamente em linha com o que o mercado esperava e esfriou as apostas de corte já em janeiro. Com a trajetória de inflação mencionada no Focus e citada no texto, o mercado deve caminhar para um consenso de que o início do ciclo de redução só aconteça em março. No fim das contas, não houve grandes novidades: o Banco Central já vinha adotando um tom mais conservador nas últimas semanas, com Galípolo reforçando esse discurso”.

Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos vê que o Copom reforça a decisão de prudência em um contexto em que a inflação ainda não convergiu para a meta, “as expectativas permanecem desancoradas e o ambiente doméstico e global segue marcado por incertezas relevantes”.

Foto Joelfotos/Pixabay

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