Especialista fala sobre a expectativa da reunião do Copom

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Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe Warren Investimentos, falou sobre a expectativa da reunião de julho do Copom e de como deve ficar a política monetária. Segundo ele deve ocorrer a manutenção da meta Selic em 10,50% por decisão unânime na reunião de 31/07. “Avaliamos que isso estaria em linha com a sinalização anterior de que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como a reancoragem das expectativas. Vale notar que permanecem os fatores apontados anteriormente para manter a Selic estável por um período prolongado, notadamente a desancoragem das expectativas e o dinamismo da atividade e do mercado de
trabalho. Ao mesmo tempo, não vemos espaço para uma eventual indicação de possibilidade de elevação dos juros, pois o Comitê não deve se guiar por flutuações de curto prazo da taxa de câmbio. O principal fator de desconforto, que poderia levar a um tom um pouco mais duro, refere-se à ampliação do desvio das expectativas em relação à meta de inflação”, diz.

Sobre a taxa de câmbio ele lembra que era de R$ 5,30 e, agora, deve ficar na casa em R$ 5,55, afetando as projeções de inflação. Contudo, ele complementa que o movimento de desvalorização cambial tem outro cenário diferente do mês anterior. “Antes um dos principais fatores foi o aumento do prêmio de risco devido ao agravamento dos temores com relação ao quadro fiscal, a depreciação adicional desde então pode
ser atribuída mais a fatores conjunturais e não deve ser vista como permanente. Cabe ressaltar que o CDS de 5 anos do Brasil subiu de 138 bps na reunião de 08/05 para 159 bps na reunião de 19/06, mas, em 29/07, situava-se em 157 bps. Dentre os fatores que pressionaram a taxa de câmbio recentemente, destaquem-se o desmonte de operações de carry trade devido à valorização do iene, a redução de alocações de investidores
estrangeiros em países da América Latina e a valorização do dólar contra o conjunto de moedas emergentes”, cita. Ele observa que no Brasil, a trajetória da moeda foi amplificada pela ausência de espaço de risco, por parte dos fundos multimercados locais, para aproveitar as “distorções” de mercado, tendo em vista o desempenho ruim desde 2023 em termos de rentabilidade e o elevado volume de resgates.

Outro ponto mencionado pelo especialista envolve o início do ciclo de corte de juros pelo Fed, em setembro, com reversão do movimento de desvalorização do real, assim como a dissipação dos fatores conjunturais. Além disso, os desenvolvimentos recentes da política fiscal, com o anúncio recente de bloqueio e contingenciamento de despesas contribuindo para a redução do prêmio de risco, ao indicar a intenção do governo de cumprir a meta fiscal e não a de alterá-la, apesar de permanecerem incertezas com relação à execução. Assim, julgamos que seria importante o Copom apontar que não se guia por movimentações de curto prazo da taxa de câmbio. Segundo o especialista a política monetária tem que se submeter aos preceitos de cautela e serenidade e não à volatilidade de curto prazo dos preços de mercado. “Nesse sentido, consideramos que a barra continua alta para uma sinalização de possível retomada do aperto monetário nas próximas reuniões, em razão dos seguintes fatores: aumento das projeções de inflação decorre da desvalorização cambial, mas o patamar atual do real está bem acima da taxa de equilíbrio; o balanço de riscos deve continuar a ser visto como simétrico, e o real se depreciou, por outro lado, a inflação de alimentos arrefeceu e aumentou a probabilidade de que o Fed comece a cortar os juros em setembro “, diz e acrescenta os desenvolvimentos recentes da política fiscal com melhora da margem; e, apesar da surpresa negativa do IPCA-15 de julho, houve concentração em poucos itens e os dados dos últimos meses mostram uma inflação bem comportada, assim como as projeções de curto prazo.

Para Sérgio Goldenstein, o principal ponto de atenção refere-se à ampliação das desancoragem das expectativas de inflação, cuja mediana para 2025 saiu de 3,80% no último Copom para 3,96%. Isso pode levar o Copom a endurecer o discurso, alertando que se manterá vigilante com relação à estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante por meio de uma política monetária contracionista por tempo suficiente. “Consideramos que uma sinalização muito dura do Copom seria precipitada e poderia levar os analistas a projetarem uma probabilidade ainda maior de retomada do ciclo de alta dos juros na próxima reunião, tornando o BC “refém” do mercado. Esperamos que a visão majoritária do Comitê seja por aguardar em que patamar a taxa de câmbio irá se acomodar para então avaliar seus potenciais impactos sobre a inflação e as expectativas”.

Foto: Gadini/Pixabay

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