Como cresce a produção de alimentos

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Adary Oliveira, ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, Engenheiro químico e professor (Dr.) 

Desde que o economista inglês Thomas Robert Malthus (1766-1834) anunciou a sua teoria ao mundo, defendendo que a população cresce mais rápido do que a produção de alimentos, que se tem pensado sobre as consequências do crescimento populacional desordenado, mesmo diante dos avanços tecnológicos que praticamente as anularam. A base de todo o pensamento de Malthus, a partir de observações que fez em várias partes do mundo, era de que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos aumentava apenas em progressão aritmética. Neste artigo procuro comparar o aumento da população mundial com o aumento da produção dos cinco principais alimentos nos últimos dez anos: arroz, trigo, milho, canola e soja.

Primeiramente, para servir de referência, a população mundial tem crescido de forma constante. Em 2015, a população estava em torno de 7,3 bilhões, e em 2023, estimativas apontam para cerca de 8 bilhões. Isso representa um crescimento de aproximadamente 10% em oito anos.

A produção de arroz tem se mantido estável, com pequenas variações anuais, mas em geral, aumentou em torno de 10% na última década devido a inovações tecnológicas e aumento da demanda. Como prato preferido dos chineses, povo com a maior população mundial, o arroz vai seguir liderando o ranking dos alimentos mais consumidos.

A produção de trigo também aumentou, com um crescimento estimado de 15% nos últimos dez anos, impulsionado por melhorias na produtividade. Na culinária o trigo entra em grande número de receitas, mas é na fabricação do pão que ele se põe à frente de muitos alimentos.

O milho teve um aumento significativo na produção, com crescimento de aproximadamente 25% na última década, principalmente devido ao aumento da demanda para alimentação animal e biocombustíveis. São muitas as iguarias que usam o milho no seu preparo, mas a produção de álcool a partir do milho, para uso como combustível e como matéria prima na indústria química, tem crescido consideravelmente.

A produção de canola teve um crescimento em torno de 20% na última década, beneficiada pela crescente demanda por óleos vegetais. Seu uso na fabricação de biodiesel e de diesel verde tem movimentado os mercados tendendo a puxar com força a demanda.

A produção de soja aumentou em cerca de 30%, refletindo a crescente demanda global por proteína vegetal e óleo. O farelo de soja é um componente significativo na formulação de ração para suínos, de consumo crescente no mundo, principalmente na Ásia.

Enquanto a população mundial cresceu cerca de 10% em dez anos, a produção de soja e milho teve aumentos muito superiores, o que sugere que a produção desses alimentos conseguiu acompanhar e até superar o crescimento populacional. Por outro lado, a produção de arroz e trigo, embora tenha aumentado, fez isso em um ritmo mais lento do que o crescimento da população, o que pode ser uma preocupação para a segurança alimentar no futuro. Essa comparação indica que, enquanto alguns alimentos estão sendo produzidos em quantidades crescentes para atender à demanda, ainda há desafios na produção de outros alimentos essenciais. Isso destaca a importância de práticas agrícolas sustentáveis e inovações tecnológicas para garantir que a produção de alimentos continue a acompanhar o crescimento populacional.

O Brasil é um dos líderes mundiais na produção de alimentos e não faltam possibilidades para definição de novos campos de pesquisa. Um exemplo que costumo citar é o caso do milho, cultivado aqui desde o tempo dos indígenas. O milho é muito usado no Brasil nas festas juninas e no sertão nordestino se costuma plantar milho no dia de São José, dia 19 de março, cerca de 90 dias antes dessas festas, tempo aproximado entre o plantio até a colheita. A fabricação do pão de milho poderia ter seu custo reduzido e fosse feita uma modificação genética no milho que removesse o ácido fético, que inibe a ação do fermento na fabricação do pão, interferindo na atividade das enzimas que são essenciais para a fermentação.

De qualquer maneira ainda vai passar muito tempo para que a teoria de Malthus se torne verdadeira, pelo menos enquanto o agronegócio brasileiro continuar pujante.

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