Americanas: recuperação judicial avança para acordo

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Adriano Villela

Em 11 de janeiro de 2023, o mercado financeiro levou um susto sem precedentes com o anúncio de um rombo na contabilidade da rede varejista Americanas. O CEO Sérgio Rial, demissionário com nove dias no cargo, anunciou a existência de operações de risco sacado (recebimento antecipado de receitas futuras) não contabilizados corretamente nos balanços da companhia de R$ 20 bilhões.

No dia seguinte, a cotação das ações da rede caíram de R$ 12 para menos de R$ 1. Uma semana depois a companhia entrou em recuperação judicial, sendo retirada da lista de empresas cotadas na bolsa de valores B3. Um ano depois, há luz no final do túnel, mas as questões se resolvem de forma lenta.

Os balanços corrigidos de 2022 e 2021 só saíram em novembro, apontando para um patrimônio líquido negativo de R$ 26,7 bilhões. Somente em 2021, os resultados mudaram de lucro de R$ 731 milhões para perda de R$ 6,2 bilhões.

O grupo, que enfrentou sequência de trocas de CEOs, conseguiu aprovar o acordo de recuperação judicial em dezembro, obtendo o aval de 91,4% dos credores. A proposta envolve um aporte de R$ 12 bilhões pelos acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Sócios da 3G Capital, eles são três dos cinco brasileiros mais ricos. Quando o escândalo contábil estourou, o trio negou conhecimento da fraude. “Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo”, alegaram, se referindo à PwC.

Em que pese somar mais de 16 mil credores, a Americanas concentra mais de 70% dos débitos em bancos, com quem as operações de risco sacado eram firmadas. Os grandes bancos credores movem ações paralelas à RJ contra a empresa e dirigentes da Americanas, entre eles os investidores da 3G capital. Com negócios do porte da Ambev e da privatizada Eletrobras, Lemann, Sicupira e Telles não detêm o controle acionário da varejista, mas são os acionistas de maior participação. Dentro deste trio, Sicupira estava à frente da gestão da rede de varejo.

Em um ano, a Americanas fechou uma loja a cada três dias e demitiu um quarto do seu corpo de funcionários. Os resultados, ainda não divulgados em balanço de 2023, não animam. No campo jurídico, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e autoridades governamentais abriram investigações, sem consequência imediata. Sobram acusações contra os acionistas e diretores. Miguel Gutierrez, CEO por duas décadas, é um dos alvos.

Mas faltam conclusões e explicações claras. Uma das interrogações é sobre o papel da PwC no caso. Outra é sobre a existência ou não de prática semelhante em outras empresas do trio da 3G. A aprovação do plano de recuperação é um alento para a varejista, mas seu cumprimento ainda é uma estrada tortuosa.

Foto: Tania Rego/Agência Brasil

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