Ampliando o uso do etanol

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Adary Oliveira – ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, engenheiro químico e professor (Dr.)

O uso do etanol como combustível automotivo tem crescido a passos largos no Brasil desde que foi instituído o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) na década de 1970. O Proálcool foi uma iniciativa do governo brasileiro para intensificar a produção de álcool combustível (etanol) para substituir a gasolina, pois seu preço estava muito elevado e passou a ter grande peso nas importações do país. Outra ação que viria a reduzir as importações de combustível automotivo, neste caso o óleo diesel, foi o da fabricação de biodiesel, produzido a partir de fontes vegetais ou animais, uma fonte de energia renovável. A fabricação do biodiesel é feita através de um processo chamado de transesterificação onde se pode usar o etanol ou o metanol como matéria-prima e se gera glicerina como subproduto. No Brasil se passou a usar o metanol por se conhecer a tecnologia do processo. Para se usar o etanol teria de desenvolver nova tecnologia. Enquanto não se toma essa providência o Brasil usa metanol importado ao invés do etanol, que é produzido em larga escala e gera excedentes exportáveis.

A substituição do metanol pelo etanol na produção de biodiesel envolve diversas mudanças processuais e tecnológicas, pois as propriedades físico-químicas dos álcoois interferem diretamente nas reações de transesterificação. Fiz uma pesquisa sobre o assunto e comento aqui as mudanças na tecnologia para se poder fazer a substituição. O etanol possui menor reatividade em relação ao metanol devido à sua natureza mais volátil e à maior dívida de impedância na transferência de massa. Podem ser necessárias modificações na escolha do catalisador (por exemplo, catalisadores heterogêneos) ou mesmo na concentração e na temperatura para favorecer a reação. Ajustes no tempo de reação podem ser necessários para obter uma conversão adequada.

O etanol é menos miscível com os triglicerídeos, o que pode levar a problemas na formação de uma mistura homogênea. Portanto, pode ser preciso incluir etapas de pré-mistura ou o uso de cossolventes que ajudem na miscibilidade e na penetração do etanol na fase oleosa. A separação dos subprodutos pode ser mais complexa. Com o etanol, a separação do glicerol e do éster pode demandar mudanças na metodologia de decantação ou centrifugação. É necessário avaliar a possibilidade de aumento na presença de impurezas e ajustar as etapas de purificação subsequentes.

Do ponto de vista econômico, é preciso avaliar os custos do etanol e a viabilidade do processo. O Brasil não produz metanol em larga escala, tendo fechado as fábricas de Camaçari, BA, e Rio de Janeiro, RJ. Ambientalmente, o uso de etanol pode ser considerado mais sustentável se este for produzido a partir de fontes renováveis, mas é necessária uma análise de ciclo de vida para confirmar os benefícios.
Antes de uma implementação em larga escala, recomenda-se a realização de testes piloto para ajustar as condições de reação, a dosagem dos reagentes e confirmar a eficiência do processo com etanol. Também é importante monitorar a qualidade do biodiesel produzido e a formação de subprodutos.

Todo o protocolo deve ser revisado em conformidade com as normas de segurança (devido à maior inflamabilidade e volatilidade do etanol) e regulamentos ambientais. A equipe operacional deve ser treinada para lidar com as mudanças e as propriedades específicas do etanol.
O preço baixo do metanol no mercado internacional, onde há excesso de produção, tem inibido o desenvolvimento de pesquisa tecnológica para se fazer a substituição. Assim, esses são os principais pontos a se considerar para a substituição do metanol pelo etanol na fabricação de biodiesel, equilibrando eficiência, segurança e aspectos econômicos/ambientais.

A estratégia de promoção do desenvolvimento através da substituição de importações ainda não se esgotou. Embora o etanol produzido no país possa vir a ser mais dispendioso que a importação do metanol, pode-se corrigir o déficit com políticas fiscais, tendo em consideração outras vantagens econômicas (escala da produção) e de benefícios sociais (número de empregos criados). Por outro lado, as fábricas de metanol que foram fechadas (Metanor e Prosint) devido ao preço elevado do gás natural, poderiam ter sido ampliadas se fosse aplicado, por exemplo, corretivo para o preço do gás natural, seu principal insumo na fabricação.

Neste exemplo, como em muitos outros, a ação incentivadora do governo pode viabilizar projetos da iniciativa privada.

Foto Site Café com Informação

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