Eduardo Cristian, CEO da Costurando Sucesso
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump assinou um decreto impondo uma taxação de 50% sobre produtos importados do Brasil, o que adiciona ainda mais incerteza ao cenário já delicado que o setor têxtil nacional enfrenta. Embora os números envolvidos na possível taxação de exportações brasileiras — estimados em cerca de R$ 500 milhões — possam parecer relevantes em termos absolutos, é fundamental colocá-los em perspectiva.
Estamos falando de um mercado que gira aproximadamente R$ 400 bilhões por ano, somando os setores formal e informal. Dentro desse contexto, o valor impactado diretamente representa apenas uma fração do todo. No entanto, o verdadeiro efeito dessa medida não está apenas nos números visíveis, e sim nos impactos invisíveis que ela desencadeia.
Esses impactos são psicológicos, simbólicos e estratégicos. O mercado funciona não apenas com base em dados objetivos, mas em expectativas, confiança e estabilidade. A incerteza gerada por uma taxação abrupta paralisa decisões de compra, atrasa planejamentos e afeta toda a cadeia produtiva — da produção de matéria-prima à entrega do produto final. Isso gera gargalos logísticos, aumenta custos operacionais e compromete a previsibilidade necessária para o bom funcionamento das empresas do setor.
Além disso, há um risco de instrumentalização política e comercial. A indústria têxtil brasileira pode, por exemplo, ser usada como moeda de troca pelo governo federal em acordos internacionais — como reduzir tarifas de importação para têxteis chineses em troca de vantagens no setor agrícola. Isso, se ocorrer sem transparência e diálogo com os agentes do setor, pode aprofundar ainda mais os danos.
Esse cenário alimenta narrativas mal-intencionadas que tentam descredibilizar a capacidade produtiva do Brasil. Uma cadeia paralisada pela incerteza e por políticas mal conduzidas acaba parecendo ineficiente, quando, na verdade, o problema está em decisões políticas e comerciais que não consideram o ecossistema completo da indústria nacional.
Portanto, o maior risco não é o valor direto da taxação, mas sim o efeito dominó que ela pode causar: retração dos investimentos, perda de competitividade, desorganização da cadeia produtiva e, no médio prazo, a falsa percepção de que o setor têxtil brasileiro não é eficiente — quando, na verdade, ele é apenas vítima de um ambiente instável e pouco previsível.
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