A saúde mental precisa ser levada a sério

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Por Alessandra Nascimento

Antigamente se dizia que toda e qualquer doença mental era “loucura”. A negligência aos cuidados neuropsiquiátricos trouxe uma série de estigmas que o Brasil tem que superar. Precisou uma pandemia de Covid-19 seguida das necessidade das medidas restritivas para que todos valorizassem o trabalho dos especialistas em áreas neuropsíquicas.

Na minha família havia um tio. Ele sofria de perda de memória. A situação era tão pesada que antes de morrer meu avô reuniu os filhos e pediu que cuidassem dele. Meu tio casou, teve filhos. Mas o que estava guardado. Lá dentro. Começou a vir à tona. Família pouco instruída achava que “Tava dando santo”. Água fria na cabeça, chuveirada, não pegar vento. Tudo foi tentado, mas ele sempre ia piorando. Numa das crises, eu já era adolescente, ele levou uma semana fora de casa adotando outra personalidade. Se apresentava como Zé, simplesmente. (Seu nome não era esse claro!)

E nessas andanças de religião em religião ele se depara com o Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia. Foi naquele hospital que, através da ciência, o caso foi identificado como uma série de transtornos que, para sua infelicidade, não eram curáveis.

A doença o afastou da esposa e dos filhos. A ignorância, desrespeito e preconceito fizeram com que ficasse sozinho. Sem emprego, vivendo da ajuda dos irmãos e sem conseguir se aposentar por invalidez. Ô via crucies!

Quando finalmente ele conseguiu sua aposentadoria, morreu de infarto fulminante e nem pode usar um real para comprar seu sorvete predileto na Ribeira, onde gostava de passar as tardes quando sentia-se bem.

A história de meu tio é apenas mais uma que aponta a negligência dos atores envolvidos nas questões neuropsiquiátricas. O estigma começa na família, que vai aumentando como pregos enfiados no interior da alma da pessoa. Se vendo acuada, ela muitas vezes ataca para se defender de algo que nem mesmo ela sabe. Do “não se compreender” vem a depressão, tentativa de suicídio, ansiedade, etc.

Meu tio morreu antes da pandemia. E hoje levante as mãos pros céus aquele que não tem problema mental. A pandemia não apenas matou. Ela afetou a psique de todos. E isso é realidade. Me deparei com uma reportagem que trazia dados da própria Organização Mundial da Saúde (OMS), na qual apontava o Brasil como o país, na América Latina, com maior número de casos de depressão, e que ocupava a segunda posição nas Américas. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo.

Com os planos de saúde cada dia mais caros e, perdoem-me, deixando a desejar, o SUS cada vez volta a ganhar destaque. A saúde mental gera aos empreendedores um desafio a mais. Não é só buscar o pão de cada dia, mas  lutar contra si mesmo e por si mesmo. O que quero dizer é simples: nós somos nossos maiores inimigos e podemos ser nossos maiores amigos quando nos compreendemos. Quando conseguimos encontrar em nós o gatilho que nos tira a paz.

Estive em contato com a Secretaria de Saúde do Município de Salvador para justamente saber como esta importante questão é tratada pelo município. Me informaram que nos casos de saúde mental, a população conta com Centro de Saúde Mental Rubim de Pinho, Multicentro Carlos Gomes, Multicentro Vale das Pedrinhas e o mais conhecido, Centro de Saúde Mental Oswaldo de Camargo, no Lucaia, que atende por mês 874 pessoas entre consultas médicas, psicológicas, enfermagem e serviço social. Para receber a atenção em qualquer uma dessas unidades é preciso ter o cartão SUS que você tira em qualquer Prefeitura-bairro. Também deve levar RG, CPF, comprovante de endereço e, se houver, encaminhamento. (eles dão atenção humanizada mesmo que o paciente não disponha do encaminhamento do profissional anterior)

A área da Psiquiatria tem registrado o maior numero de atendimentos. Entre as medicações mais prescritas antiepilépticos, antiparkinsonianos, antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos. A pandemia fez explodir casos como esse e chamou atenção para nossa própria negligência em nosso bem-estar mental. A secretaria me deu uma triste visão: o aumento elevado dos casos de esquizofrenia, depressão, transtorno de ansiedade, transtorno de humor, déficit cognitivo e por aí vai.

As doenças mentais prejudicam o desempenho do empreendedor. Isso é fato. Por isso, buscar apoio é fundamental para que doenças que podem ser controladas logo no princípio não se transformem como a que debilitou gravemente meu tio.

Encerro esse artigo chamando a atenção para a letra de uma música composta por Arnaldo Baptista, Roger Ranson e a saudosa Rita Lee. A música é Balada do louco, imortalizada por Ney Matogrosso, cuja lição todos nós já deveríamos saber:

Dizem que sou louco por pensar assimSe eu sou muito louco por eu ser felizMas louco é quem me dizE não é feliz, eu sou feliz

A felicidade cura qualquer doença, vamos ser menos materialista e mais espiritualista é mais producente e saudável

 

Foto PIRO4D/Pixabay

 

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