A mentalidade do achismo: por que o Brasil ainda resiste à cultura de dados

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Por Mahara Scholz, Head de Receita da Octadesk

No discurso, a transformação digital já é consenso. Na prática, ela ainda esbarra em um velho hábito corporativo: tomar decisões com base em experiências passadas, opiniões individuais ou pura intuição. Em outras palavras, ainda prevalece no Brasil uma cultura de improviso — onde o dado não é o ponto de partida, mas um recurso acessório (ou até ignorado).

Segundo uma pesquisa da Oracle, The Decision Dilemma, em parceria com o cientista de dados Seth Stephens-Davidowitz, 78% dos líderes empresariais afirmam que suas organizações tomam decisões antes e só depois buscam dados que sustentem a escolha feita. Mais preocupante ainda, 74% dizem que a opinião de quem ocupa cargos altos têm mais influência que os dados na definição dos rumos estratégicos da empresa.

Esse padrão de comportamento não é apenas um desvio pontual: é uma falha estrutural. Ele revela um modelo de gestão que privilegia status e subjetividade em vez de fatos, evidências e previsibilidade. Ao fazer isso, cria-se um ambiente onde decisões são mais lentas, menos assertivas e desconectadas da realidade do mercado e do comportamento do consumidor.

É preciso romper com essa lógica. A competitividade atual depende de decisões rápidas, bem fundamentadas e orientadas por dados de qualidade. Isso vale para todas as áreas: marketing, vendas, atendimento ao cliente, produto, operações. Quando os dados são deixados de lado, as empresas operam como se estivessem no escuro. E o custo disso é alto — em tempo, dinheiro, oportunidades e, principalmente, relevância.

Dados são, hoje, o maior ativo estratégico que uma empresa pode ter. Eles revelam padrões, antecipam comportamentos, reduzem incertezas e potencializam resultados. Mas para que isso aconteça, é preciso mais do que tecnologia. É necessário um compromisso cultural com a tomada de decisão baseada em evidência.

Muitas empresas investem em ferramentas de análise, relatórios e dashboards, mas continuam agindo com base no “eu acho”. Sem mudança de mentalidade na liderança, a tecnologia se torna subutilizada e o potencial dos dados, desperdiçado.

Desenvolver uma cultura orientada por dados exige três pilares: acesso democratizado à informação, formação contínua de equipes e um exemplo claro vindo de cima. A liderança precisa praticar o que prega e estimular um ambiente onde dados são consultados antes de decisões, não depois. Mais do que um processo, é um comportamento coletivo que deve ser cultivado e valorizado todos os dias.

Empresas que ainda operam no modo “achismo” correm o risco de serem atropeladas por concorrentes mais preparados. Em um mercado moldado por inteligência artificial, automação e personalização, quem não domina os dados inevitavelmente fica para trás.

O improviso pode até funcionar em momentos de crise. Mas nenhuma empresa cresce de forma sustentável apoiada nele. É hora de tratar os dados não como suporte, mas como bússola. E a mudança precisa começar agora.

Foto Gemini Google/IA

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