A indústria química pede socorro

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Adary Oliveira ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, Engenheiro químico e professor (Dr.) 

A indústria química nacional passa por momento difícil resultando no fechamento de importantes fábricas que alicerçam o setor secundário da economia brasileira. A indústria química e petroquímica instalada no Polo Industrial de Camaçari representa o que a Bahia tem de mais importante na geração de riqueza do estado e seu enfraquecimento já é notado pela perda de posição entre os estados brasileiros, reflexo dessa crise. O assunto é de tal gravidade que cerca de 28 entidades representativas do segmento, encabeçadas pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) acabam de lançar um manifesto em defesa da indústria química.

Nesse documento as entidades que o subscrevem chamam atenção para o fato da cadeia produtiva de insumos químicos brasileira, fundamental para o desenvolvimento econômico e tecnológico do país, enfrentar desafios jamais vistos e que ameaçam sua própria existência e o futuro de soluções sustentáveis para a indústria brasileira. Continua o manifesto afirmando que em um cenário global cada vez mais dinâmico, é imperativo reconhecer e valorizar a importância deste setor reconhecidamente estratégico no mundo todo, que não apenas gera mais de dois milhões de empregos e representa 12% de todo o PIB industrial, mas que contribui de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida para a transição rumo a uma economia mais sustentável.

Em Camaçari, aproximadamente duas dezenas de unidades industriais encerraram suas atividades por não poder enfrentar a concorrência motivado principalmente pela escala de produção e defasagem tecnológica. Algumas fábricas sobreviveram por terem conseguido modernizarem-se. Uma delas, que operava com 1000 colaboradores hoje funciona com apenas 50, produzindo o dobro. Outra, que tinha capacidade para produzir 60 mil t/ano foi ampliada para 100 mil t/ano, mas enfrenta a concorrência de outras localizadas em outros países com capacidade de 500 mil t/ano. Fica fechada durante parte do ano e se não for ampliada com adoção de novas tecnologias poderá também ser paralisada. Isso é o normal no mundo e aqui não pode ser diferente. Nosso polo já completou 44 anos de operação e as plantas precisam fazer o que os concorrentes mundiais fazem investindo em tecnologia e ampliação, permanentemente.

O manifesto fala da necessidade de as empresas dedicarem-se à pesquisa e inovação, o uso de energia renovável e migração de fontes fósseis para insumos alternativos. Também pede garantias protetivas por meio de ações que assegurem à cadeia a realização e atração de novos investimentos, citando como exemplo a mudança na política de subsídios para a produção nos EUA, com o aumento de impostos de importação acima da casa dos 30%.

O polo da Bahia continua sendo o maior complexo industrial integrado do Hemisfério e a infraestrutura construída, com fornecimento centralizado de matérias primas básicas, utilidades (eletricidade, água, vapor, gases industriais), unidade de tratamento de efluentes, central de manutenção, sistema logístico e de comunicações, além da diversidade da oferta de matérias primas industriais das fábricas de segunda geração, funciona como atrativo para outras indústrias, inclusive de outros segmentos como aconteceu com a usina de metalurgia do cobre, montadora de automóveis, fabricantes de pneus, peças de instalações de geradores de energia eólica, fábrica de celulose solúvel etc. Cabe a todos, governo e iniciativa privada, a conservação e atualização de tudo que foi construído com enorme esforço para a sociedade.

A proteção aduaneira que tinha sido reduzida no período da globalização volta com toda a força principalmente nos países desenvolvidos. A paralisação definitiva de unidades industriais e a hibernação de outras já tem causado redução significativa de tributos arrecadados. As importações livres têm reduzido a demanda que era cativa da indústria nacional, não só diminuindo as vendas dos produtores como também elevando os custos de produção. O reflexo disso na economia é enorme e não se limita às questões de mercado, mas sobretudo a queda da oferta de empregos.

Vale lembrar o acontecido que a Bahia pouco avançou na indústria de tecidos e de confecções, apesar de ter em seu território a segunda maior produção de algodão de fibra longa e de ter tido fábricas, hoje fechadas, de fios sintéticos tipo náilon e poliéster, restando apenas uma que fabrica acrilonitrila, matéria prima para fios acrílicos. No setor têxtil e em muitos outros a existência da matéria prima nunca foi garantia de expansão das instalações a jusante, sendo mais importante a acessibilidade aos mercados, o que só pode ser construído com ação governamental na atração de grandes empresas de cada ramo específico. Temos assim, uma boa sugestão para pensarmos em políticas públicas e promoção da revitalização do Polo.

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