ASEAN amplia protagonismo e atrai investida brasileira por mercado de 600 milhões de pessoas

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Nas últimas semanas, o Brasil declarou publicamente o interesse em se associar à Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), algo inédito para um país da América do Sul. Pressionado pelo tarifaço americano e em busca de novos mercados, o país encontrou no bloco asiático um espaço estratégico de expansão e tem intensificado movimentos para estreitar essa relação.

Segundo a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção do Comércio e Investimento), em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 26,3 bilhões para a Asean. O valor representou 7,8% de tudo o que o país vendeu ao exterior e fez do grupo o terceiro maior destino das exportações brasileiras, com um salto de mais de 17% , desempenho muito acima da média nacional de 8,8%.

Enquanto o governo brasileiro mira um mercado de mais de 600 milhões de pessoas, com crescimento acelerado, demanda crescente por alimentos, energia e tecnologia, além de influência cada vez maior nas cadeias globais de produção, os países do bloco observam o Brasil como um parceiro estratégico: fornecedor de segurança alimentar, referência em energia limpa e porta de entrada para a América Latina.

Empreendendo na Ásia, o CEO da Ningbo BR GOODS, Felipe Teixeira, avalia que o avanço econômico da Asean abre espaço para que Brasil e bloco caminhem para acordos mais sólidos, especialmente no setor alimentício. “Temos muito a oferecer com a nossa agricultura e pecuária. A segurança alimentar ainda é uma preocupação central nesses países, e os insumos brasileiros podem ser o suporte necessário, abrindo caminho para uma aproximação real”, analisa Teixeira.

Felipe ainda explica que apesar de a China ser hoje o principal parceiro comercial do Brasil, os países da América do Sul ainda têm uma relação muito forte de dependência com o mercado americano. Com o tarifaço dos Estados Unidos, muitos governos da região precisaram correr atrás de alternativas, retomando conversas com blocos e países que antes não estavam no foco, para evitar perda de mercado e garantir que suas produções não fossem interrompidas.

A história da ASEAN também mostra como unir países não é simples. O bloco demorou anos para sair do papel por causa de diferenças culturais, políticas e até antigas rivalidades que vêm desde a Guerra Fria. Para conseguir avançar, os países adotaram a regra da não ingerência, cada um cuida da sua política interna sem interferir no outro. Isso ajudou a manter a paz entre os membros,embora, ao mesmo tempo, torne mais difícil alcançar coesão em decisões conjuntas.

É nesse cenário de crescimento acelerado, e de busca global por cadeias produtivas alternativas , que entram Singapura e Malásia. Com ambos os países ganhando destaque no setor de tecnologia e manufatura leve, cada vez mais empresas têm deslocado parte de suas operações para economias da ASEAN como forma de reduzir custos e ampliar competitividade.

“Hoje, o Sudeste Asiático oferece os melhores preços em diversos produtos. A China começou a ficar um pouco mais cara por conta de novas regulamentações, e a produção de itens mais simples, que dependem de mão de obra barata, está se deslocando para esses países. Isso torna a região ainda mais estratégica para empresas que buscam competitividade e diversificação das cadeias de produção”, afirma Teixeira.

As negociações, no entanto, avançam com cautela. Embora o Brasil já seja reconhecido como “parceiro setorial” da ASEAN, a transição para um vínculo mais profundo exige ajustes regulatórios, compromissos de cooperação e, principalmente, sinais de que o país pretende manter presença permanente e estratégica na região.

Segundo Felipe Teixeira, o processo é inevitavelmente gradual. “A entrada em um bloco econômico exige muita negociação, não é algo que acontece da noite para o dia. Isso deve se estender até que todos os países entendam que será benéfico para todos. Mas, claramente, já existe uma relação mais amigável e próxima, o que pode indicar uma parceria mais sólida nos próximos anos”, conclui.

Foto dendoktoor/Pixabay

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