Se cuide, é seca da peste

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Adary Oliveira ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, Engenheiro químico e professor (Dr.)


Durante 12 anos, de 1994 a 2006, dei atenção a uma fazenda da família mergulhada no semiárido do Município de Lajedinho, aqui na Bahia. A primeira providência que tomei foi instalar um pluviômetro e toda vez que chovia registrava no meu PC os milímetros da precipitação. Durante esse tempo só em dois meses do ano choveu todos os anos: março e novembro. As chuvas de março variaram de um mínimo de 10 mm a um máximo de 425 mm.

No ano em que choveu o mínimo (1996) a seca foi tipo da peste. Durante todo o ano choveu apenas 184 mm, dos quais 150 mm foram em novembro. Normalmente até que chovia um bom volume durante o ano, mas com distribuição irregular. Em 1999 foi um ano de fartura, pois, choveu 920 mm.

Observei que quando chovia pouco em março o ano era de seca e o gado tinha de ser “recursado” para lugares mais seguros o mais cedo possível. Se não fizesse isso corria o risco de vê-lo cair e morrer de sede e de fome. A segunda providência, foi perfurar um poço tubular tendo encontrado pequeno reservatório a 155 m de profundidade, o suficiente para a água de beber, evitando que os moradores se deslocassem até Wagner, onde passa o Rio Utinga, a 12 km de distância.

A notícia que chega do Interior é que choveu pouco durante o mês de março deste ano. Hotéis de Lençóis, na Chapada Diamantina, tiveram reservas canceladas por hóspedes do Feriadão da Páscoa que temiam a falta d’água. Torna-se, portanto, aconselhável tomar todas as providências para enfrentar o problema que há mais de um século aflige o sertão.

Eu era menino em Ruy Barbosa e nunca me esqueci da seca de 1950 quando faltou até farinha e os flagelados da seca ameaçavam entrar na cidade. Trouxeram da Capital uma farinha horrível, fabricada em moinhos e apelidada de “da que incha”. A Prefeitura Municipal conseguiu dar abrigo a muitos moradores da zona rural abrindo ruas e praças públicas contratando-os para os serviços, ainda no tempo em que se escavava o chão com picaretas, enxadas e pás.

Notícias veiculadas pelos jornais dão conta que a Bahia tem enfrentado desafios relacionados à seca em 2025.

A situação hídrica tem sido preocupante, com diversas regiões do estado registrando níveis de precipitação abaixo da média. Isso tem impactado a agricultura, o abastecimento de água e a vida cotidiana das comunidades. Há informações que os reservatórios importantes, como os sistemas de abastecimento, estão registrando níveis baixos, o que tem gerado preocupação sobre a disponibilidade de água para consumo e irrigação.

Também, os agricultores têm relatado perdas na produção de culturas que dependem de irrigação, e Isso pode afetar a economia local e a segurança alimentar.

Lê-se nos jornais que o governo do Estado e órgãos relacionados estão implementando medidas para mitigar os efeitos da seca, como a perfuração de poços artesianos e a distribuição de água para as áreas mais afetadas. As previsões meteorológicas indicam que a tendência de seca pode continuar em algumas regiões, o que leva a um aumento das preocupações sobre a gestão dos recursos hídricos.

A Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (CERB) tem como missão garantir a oferta de água para melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento sustentável, com ênfase no saneamento rural. Ela é responsável pela execução de programas, projetos e ações de aproveitamento dos recursos hídricos e saneamento rural do Estado da Bahia.

A empresa tem se destacado no atendimento às populações carentes do semiárido, sobretudo, no que se refere à perfuração de poços tubulares profundos, construção de sistemas integrados, convencionais e simplificados de abastecimento de água, aproveitamento de energias renováveis e implantação de tecnologias alternativas, além de outros serviços.

Está na hora da CERB tirar da gaveta e passar a executar com rapidez todos os projetos que podem socorrer os residentes em localidades mais atingidas pela seca.
É sempre bom lembrar que o importante é não tomar medidas contra as secas, mas sim executar projetos que objetivem a convivência com as secas.

O uso do carro pipa para abastecimento de água, usado com frequência nos períodos eleitorais, deve ser substituído definitivamente por projetos que garantam o convívio, tais como perenização de rios, perfuração de poços, construção de reservatórios, transposição de rios e tudo o mais que funcione em regime permanente. De qualquer maneira é bom que se tome todos os cuidados e todas as providências, possíveis e impossíveis, pois essa seca promete ser uma seca da peste, como se diz no sertão.

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