A alta do dólar e as incertezas em torno da inflação e da economia global, em especial a norte-americana após as eleições, foram impactantes para a decisão do Banco Central (BC) em aumentar para 11,25% a taxa de juros. A decisão veio do Copom com aumento de 0,5 ponto percentual, e já era esperada pelo mercado financeiro. No entanto setores produtivos viram como retrocesso a decisão que impacta diretamente na produção e consumo, ainda mais tomada neste final de ano, melhor período do ano do mercado.
Por meio de comunicado, o Copom justificou a decisão com base na insegurança dos EUA “a conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Federal Reserve, Banco Central norte-americano”.
Setores se manifestam
O aumento da taxa de juros aliado a elevação da inflação que segundo IBGE o IPCA ficou 0,44% em setembro vão trazer impactos no crédito que, mais caro, vai desestimular produção e consumo.
O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, vê como um sinal de continuidade dos ajustes. “O comunicado que acompanha a decisão não trouxe sinalizações sobre o ritmo ou o tamanho total do ciclo de aperto. As decisões seguem atreladas ao comportamento da inflação, em particular as respostas de política fiscal. A expectativa é de mais três altas, para o patamar de 12,50%. Dado o cenário global e as incertezas fiscais locais, é possível que o BC continua subindo juros em um ritmo de 0,5 p.p. nas reuniões de dezembro e janeiro, encerrando o ciclo com uma alta de 0,25 p.p. em março de 2025. O cenário do Banco BV, que considera alguma medida de ajuste fiscal e desaceleração econômica em 2025, trabalha com cortes de juros a partir do segundo semestre, com a taxa básica encerrando o ano em 11,50%”, diz.
O presidente do Sebrae, Décio Lima, alertou para o impacto nos pequenos negócios. “Mais uma vez, o Banco Central prejudica os pequenos negócios com a taxa de juros, que ainda se apresenta como uma das maiores do mundo. A situação dificulta ainda mais a tomada de crédito por parte do segmento”. De acordo com levantamento do Sebrae, com base em dados do Banco Central, a taxa de juros em empréstimo para um microempreendedor individual (MEI) fica, na média nacional, mais que quatro vezes maior que a Selic e pode chegar, no caso dos MEI da região Nordeste, ao nível de 51% ao ano.
Segundo o estudo, a taxa média para os microempreendedores individuais está atualmente em 44%. Já para as microempresas, a média atual é de 42,49% e, para as empresas de pequeno porte (EPP), fira em torno de 31,54%.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou indignação com o aumento da Selic pelo BC. “Trata-se de mais uma decisão extremamente conservadora da autoridade monetária. Isso porque o nível em que a Selic se encontrava antes da reunião já era mais que suficiente para manter a inflação sob controle. É importante observar que a inflação tem sido impactada por fatores sobre os quais a política monetária não tem efeito. Por isso, a elevação na Selic apenas irá trazer prejuízos desnecessários à atividade econômica, com reflexos negativos em termos de criação de emprego e renda para a população”, diz a entidade.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil