Um retrato na parede

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Adary Oliveira, ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, Engenheiro químico e professor (Dr.)

A diretoria da Associação Comercial da Bahia (ACB), fundada em 15 de julho de 1811, entidade de representação empresarial mais antiga das Américas, fixou a minha fotografia na galeria de ex-presidentes. No discurso que proferi recordei três iniciativas da ACB que mereceram a publicação de artigos de minha autoria, que bem retrataram o posicionamento da ACB em defesa do empresariado e do desenvolvimento da Bahia.

Em 2014 a Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) havia encaminhado à Câmara Municipal um Projeto de Lei que instituía o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC) que previa que nenhuma atividade portuária de carga e descarga de materiais, equipamentos, contêineres, tubos etc. seria permitida na Faixa de Orla Terrestre do Setor Portuário, definindo datas para que ocorresse a proibição, sendo a última delas o fechamento do terminal de contêineres no ano de 2024. O protesto, respaldado na força que a ACB representa para a sociedade, fez com que a PMS desistisse desse propósito, o que frustrou suposta pretensão de utilizar a área em projeto imobiliário.

No tempo da navegação a vela o Porto de Salvador era o porto mais importante do Atlântico Sul e começou a perder seu prestígio com a invenção da máquina a vapor, do motor de explosão interna, a abertura do Canal do Suez e a inauguração do Canal do Panamá. Por estar localizado no interior da Baía de Todos os Santos, com suas águas profundas e abrigadas, continua a ser um dos portos mais bem localizados do mundo, emoldurando a mais antiga capital do Brasil.

Em 2017 o Comando da Aeronáutica comunicou que a Base Aérea de Salvador (Basv) deixaria de ser Base Aérea para ser designada simplesmente Ala 14. O contingente seria reduzido de 1.100 militares para 400 e os aviões de patrulha marítima seriam transferidos para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. No artigo que escrevi citei a posição estratégica de Salvador, no meio da costa brasileira, e a importância histórica da Basv inclusive tendo treinado os pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB) em 1944, quando surgiu a expressão “Senta a Pua”, que hoje ornamenta os aviões de caça da FAB. Em seguida os pilotos foram para Escola de Tática, em Orlando, Flórida, Estados Unidos e para a Base Aérea de Aguadulce, Panamá, de onde seguiram para a Itália durante a 2ª Guerra Mundial. Citei também a morte de Frederigo Gustavo dos Santos, herói soteropolitano de apenas 19 anos de idade, residente na Barra, ao executar uma missão no Vale do Pó. Ele deu um voo rasante sobre um depósito de munição para metralhá-lo tendo chegado perto demais e os estilhaços da explosão atingiram seu avião, um P-47 Thunderbolt. A Aeronáutica desistiu de fechar a Basv e hoje abrigará o Parque Tecnológico Aeroespacial da Bahia, um ambiente dedicado ao fomento do ensino, à realização de pesquisas avançadas e à promoção da inovação no campo aeroespacial. Frederico dá nome à Rua do bambuzal no Aeroporto de Salvador e é endereço da Basv.

Em 2018 a Petrobras anunciou a hibernação das duas fábricas de fertilizantes nitrogenados (Fafens) localizadas em Camaçari, BA, e Laranjeiras, SE, quando na verdade já as havia paralisado. A ACB protestou e escrevi três artigos sobre o assunto tendo em um deles sugerido três alternativas, no lugar do fechamento:

a) adotar uma política de preços para o gás natural em que o gás matéria prima teria um preço menor do que o gás usado na geração de energia (calor e eletricidade);

b) aplicar a técnica de fraturamento hidráulico para a produção do gás natural, conhecido como gás não convencional ou shale gas, como vem sendo feito com sucesso em vários países, inclusive USA, China, Canadá e Argentina;

c) arrendar as duas unidades. A Petrobras recuou e fez uma licitação para o arrendamento. O Grupo Unigel venceu a concorrência e precisou investir US$ 150 milhões para pôr as duas fabricas em funcionamento.

A Unigel foi obrigada a paralisar temporariamente as atividades dessas plantas por ter sido sua operação inviabilizada pelo elevado preço do gás natural de US$ 14,00/MMBTU, enquanto nos Estados Unidos custa cerca de US 2,00/MMBTU. Quando o preço do gás voltar ao normal no Brasil as plantas voltarão a ser operadas e a Unigel poderá dar continuidade de construção de seus projetos de hidrogênio verde, amônia verde e ácido sulfúrico, que também foram obrigados a parar.

A ACB segue em frente defendendo o fortalecimento da iniciativa privada, um marco em prol da propriedade privada dos meios e de produção e um esteio da democracia, práticas exercitadas nesses seus 211 anos de existência.

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