Meninos e meninas, eu vi

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Adary Oliveira ex-presidente da Associação Comercial da Bahia, engenheiro químico e professor (Dr.)

Era uma vez um país chamado Brasil que se especializou na exportação de sobremesas: café, açúcar e cacau. As divisas obtidas com esse comércio não eram de grande monta e eram usadas para importação de alguns bens que ele necessitava e não produzia. O tempo foi passando e o Brasil passou a ocupar a posição de maior produtor global de açúcar, café, soja, suco de laranja e laranja. Passou a ser também o segundo maior país na produção global de carne bovina, celulose e etanol. A carne bovina brasileira é produzida “na solta”, de melhor qualidade da de produção “confinada”.

O Brasil era grande importador de celulose até que o norueguês Erling Lorentzen, com sua teimosia, iniciou a substituição do pinheiro (fibra longa) pelo eucalipto (fibra curta) no Espírito Santo, dominando o mercado mundial. A produção de etanol vai aumentar muito mais com ajuda projetos de irrigação subterrânea por gotejamento e o domínio da tecnologia da hidrólise enzimática na indústria. Por enquanto, ainda ocupa o terceiro lugar na produção global de carne de frango, milho e fumo.

Quando eu era criança em Ruy Barbosa, minha mãe me deu a tarefa de administrar o galinheiro. Diariamente dava o milho, recolhia os ovos e, aos sábados, pegava o frango para o almoço de domingo. O frango assado era muito caro, tanto é que se dizia que” quando pobre come galinha, um dos dois está doente”. Hoje, carne de frango é a mais barata, aqui e no mundo.Quando o ex-presidente Ernesto Geisel era presidente da Petrobras (1969 -1973), a equipe de técnicos liderada pelo diretor Leopoldo Miguez de Melo, auxiliado por Otto Vicente Perroni, deu os primeiros traços do que seria a petroquímica brasileira.

O Brasil importava polietileno para fabricar os sacos plásticos, as resinas de náilon, poliéster e acrílico para manufaturar tecidos, PVC para tubos e conexões, elastômeros para produzir pneus, tensoativos para o sabão em pó, e assim por diante. Eles sabiam que uma das matérias primas para tudo isso era a nafta, disponível nas refinarias de petróleo e muitas vezes adicionada à gasolina. Tudo se encaixava dentro do Plano Nacional do Desenvolvimento (PND) através do processo de substituição de importações.

Nesse sentido foram criados vários programas entre os quais o Siderúrgico Nacional, Metais Não Ferrosos, Celulose e Papel, Bens de Capital e a Petroquímica. Empresas japonesas foram contratadas para elaboração do projeto conceitual e, em abril de 1974, os nipônicos chegaram ao Brasil, quando uma equipe de brasileiros, da qual participava Ary Silveira, foi incorporada ao grupo.A escolha de Camaçari para instalação do que seria o maior complexo industrial do Hemisfério Sul, se deu devido a um estudo onde foram considerados vários fatores, entre os quais a existência o Porto de Aratu, em sua concepção original de atender ao Centro Industrial da Aratu (CIA), as unidades industriais da Refinaria de Mataripe e COPEB, os incentivos fiscais administrados pela Sudene e estudos preliminares elaborados pela equipe de Rômulo Almeida, da empresa Consultoria e Planejamento (CLAN).

Nas palavras de Rômulo “A ideia do COPEC correspondia a uma estratégia regional de desconcentração concentrada, por um lado, por outro, à utilização da maior oportunidade de indústria básica no Nordeste, efetivamente no setor químico”.A equipe comandada por Ary Silveira desembarcou em Salvador em janeiro de 1974, quando se iniciou os serviços de terraplenagem. Os trabalhos foram duros e no dia 29 de junho de 1978, quatro anos e meio depois, foram inauguradas 26 unidades industriais, com tudo que estava projetado: Central de Matéria Primas, Central de Utilidades, Central de Manutenção, Central de Tratamento de Efluentes e Complexo Básico. Tudo dentro do prazo previsto e de um orçamento de US$ 6 bilhões.

É sempre bom lembrar que ainda não se usava o computador e as calculadoras eletrônicas ainda estavam chegando. Não se pode deixar de registrar a participação do governo Roberto Santos com a construção da Via Parafuso e das obras de infraestrutura, fundamentais para o funcionamento do Polo.Certa feita eu conversava com um famoso político baiano quando ele me disse: “Quando se está no poder se tem duas obrigações: se manter no poder e exercer o poder”. Eu então disse a ele que se deveria usar mais tempo para o exercício do poder, usando-o na edificação da nação brasileira. E assim se pode fazer.

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